sábado, 15 de setembro de 2007

O advogado


17:26 hrs :

Acabávamos de estacionar quando algo estranho me acometeu. E foi ali no carro de minha filha que senti o coração bater descompassado causando-me considerável desconforto. Com dificuldade desci, travei a porta  e caminhamos para o escritório, apesar de fazer o possível para não deixar transparecer, afinal, poderia ser apenas um mal estar passageiro e eu não pretendia preocupá-la.


17:28 hrs :

Ao entrarmos pela recepção cumprimentei as atendentes com um aceno de mão e me dirigi à sala do advogado de causas ganhas e umas tantas perdidas. Apesar de gozar dum certo conceito entre os ótimos escritórios de advocacia, sei que nós advogados  equilibramo-nos em fios e lâminas, e em ocasiões que seremos coroados de glórias, e talvez em outras, onde passíveis de erros e repercussões haveremos por enterrar de vez a vida de um profissional. das leis.
E era nesse exato momento em que me ocorria as divagações que senti a dormência no braço esquerdo, e logo após a dor aguda que me fez espalmar a mão direita sobre o peito, um inequívoco indício de ataque do miocárdio. Que hora mais imprópria para ter um  infarto e dor tão desumana que sequer permitiu manter-me em pé. Inevitável, desabei, e o barulho do meu corpo ao encontro do piso de tábuas largas chamou a atenção de minha filha que acabara de adentrar o seu escritório, ao lado.
Grace era o seu  nome, e ela veio correndo. Em seu lindo rosto sobressaiam os olhos negros e curiosos, esses, ávidos por conhecimento. Evidente, Grace sempre foi a menina dos meus mimos, porém a admiração ia além à advogada brilhante que era. E assim digo porque era generosa e preocupada com as cosias que me cercavam, pois ao ouvir qualquer dos meus espirros vinha à minha sala para certificar-se que tudo se encontrava bem.
Entretanto sua apreensão não evitou que eu estivesse ali ao chão diante aquela dor que me rajava no peito como se mil abelhas me picassem.
Seria dessa forma que a vida terminaria para mim? - Questionei -

Talvez fosse, entretanto o ataque vinha no momento impróprio, num instante em que travávamos uma batalha envolvendo milhões de dólares com uma das grandes multinacionais do setor alimentício
Óbvio, passados dois anos de sua formatura, Grace esbanjava competência e inteligência ao raso dos seus quase 25.  No entanto desconhecia a totalidade dos macetes jurídicos e as minúcias processuais, detalhes pequenos, mas que  poderiam cegá-la e fazê-la perder uma excepcional causa. Portanto não foi essa a melhor hora de abandoná-la e deixá-la a merce das bestas feras.
E assim não me é difícil concluir, pois tínhamos pela frente não só a batalha por um elevado valor, mas a excepcional perspicácia de César Carvalhaes, o advogado da parte contrária. Cesar deveria estar na faixa  dos 30, um desses sujeitos que personificam a realidade daqueles que honram o exercer da profissão. E a adjetivação saltava aos olhos naquele talentoso jovem descendente de um clã de notáveis advogados, pondera-se, todos formados nos bancos da  Faculdade do Largo de São Francisco.
No caso de Cesar embutiam-se ainda outros pesos, pois o demônio parecia deter um dom especial, já que todas as rotas que trilhávamos pareciam ser esperadas por ele, e isso facilitava as suas protelações. Por vezes me perguntei como o advogado conseguia vislumbrar as decisões da minha razão, porém, fossem quais fossem as suas premonições tinha que curvar-me à sua estupenda capacidade de se antecipar.


17:29 hrs :

Apenas mais um minuto e o meu coração agonizava.  Minha filha ao me flagrar deitado gritou por socorro, e Valquíria, a secretária, surgiu e  presenciei a aflição ao  ligarem para o Hospital Bom Coração, o qual, diga-se, fui um dos  beneméritos. Desesperadas clamavam que para que viessem logo, porém tanto esforço não resultaria em nada, pois ainda havia o relógio com os ponteiros quase inertes pelas pilhas desgastadas.
Antes de exalar o último suspiro, Valquíria ainda rogava ao telefone, e no rosto de minha filha apenas a amargura e lágrimas deslizando, formando um pequeno afluente que borrou a sua maquiagem.
Com os  meus ponteiros prestes a estancar cravei os olhos no meu diploma de Direito afixado  logo acima da cadeira executiva e tentei sorrir.


17:30 hrs :

Antes que cerrasse os olhos consentindo o fim da vida,  flashes espocaram em minha  mente como néons coloridos, e na consciência aflorou a necessidade de voltar a reviver esse mesmo dia, o de minha morte. Talvez naqueles milésimos de segundos eu estivesse confuso, pois nada me parecia mais importante que retornar para poder reviver as últimas 24 horas junto das pessoas por quem nutri algum sentimento. Talvez o desejo aflorou por não estava preparado para a morte, portanto, entre as dores só me restou a rápida  prece e na qual clamei a realização. Já agoniza quando tudo se fez torpor ao senti o inexplicável,  algo assim como se extraíssem coisas do meu corpo, e fui tocado pela paz que apenas se interrompeu no desespero de Grace que ainda insistia por socorro.
Num derradeiro esforço tentei movimentar os lábios para enviar a ela o mais doce dos beijos, depois sorri.
E assim foi que morri.


22:00 hrs :


Fazia muito frio no salão lúgubre, o lugar onde  tomei consciência de mim no sono talvez  interrompido por um conjunto de potentes lâmpadas encaixadas nas luminárias presas ao teto. Elas refletiam não tão fortes, mas me importunavam os olhos.  O local apesar do requinte, mais parecia pesadelo.
Olhei para mim e me peguei-me deitado em algo rígido que adormecia as minhas costas. Portanto soergui a cabeça levando o tórax adiante e sentei e olhei para os lados e me vi cercado por pessoas que zanzavam de um canto para o outro. Elas se mantinham silenciosas, ou quando não cochichavam baixinho, gesticulando com alguma discrição. Firmei as vistas e notei algumas pessoas sentadas, talvez ansiosas por um bom sono. Atentei-me em cada uma de suas fisionomias para depois me dar conta do lugar que estava.
Surpresa! Estava de corpo presente em meu próprio velório –
Fiquei por mais alguns instantes olhando para as pessoas, mas me sentia cansado, entorpecido, e aquilo me confundia, portanto deitei-me novamente. Ao me acomodar no caixão meu cotovelos esbarraram em flores, e eu estava cercado por elas, e ali tinham rosas, jasmins, begônias e outros tipos. Movimentando levemente a cabeça para trás pude ver alguns castiças consumindo velas enormes, expurgando um  cheiro que se juntava aos odores adocicados das flores causando-me  náusea.

Voltando com a cabeça agora sim pude reparar que Grace se aproximava de mim. Assim que me viu acariciou-me o semblante, distante, vaga, parecendo estar num outro plano de vida, num grande espaço vazio. Sorri para ela e lhe disse: Eu te amo - Porém ela reagiu como se não me visse ou escutasse, nem mesmo se dando conta de que eu  havia ressuscitado. Preocupei-me com sua inércia e outra vez levantei a cabeça e esticando o braço  tentei acariciar a sua face com a mão direita. Grace permaneceu alheia no momento que meus dedos ultrapassaram a suave tez do seu rosto, cena que me remeteu à situações assemelhadas a de um filme de grande sucesso e que tratou da mesma temática.
Surpreso, e no sentido de provar que não era alguma alucinação repeti o gesto e meus dedos entraram e saíram do seu rosto sem que Grace sentisse o contato. Desisti daquela traquinagem e olhei para o lado esquerdo da sala e mais adiante, sentada numa confortável poltrona estava a minha esposa, Elisabeth, mais conhecida como Belinha.
Fitei bem o seu olhar, e como seria de esperar não havia lágrimas nos olhos, ou em sua fisionomia algo que lhe denunciasse a dor, o desespero, ou mesmo a saudade.

Ainda soerguido revirei o ambiente à procura de semblantes conhecidos. Sim, havia muita gente por lá; Estagiárias do escritório, magistrados, gente da OAB, clientes amigos, companheiros de futebol Society, e até pessoas com bom trânsito nas colunas sociais. Parte deles sussurravam amistosamente coisas que, mesmo apurando os ouvidos não consegui ouvir.
Deus! Será pesadelo? – Murmurei.  Contudo continuei confuso, e sem saber como proceder decidi levantar do caixão e postar-me de pé e ao seu lado. E assim o fiz sem me perder das pessoas, e nelas nenhuma reação, nem mesmo quando fiz barulho ao bater o pé direito do sapato de grosso solado na cerâmica. Não, nada eu consegui, então voltei o meu olhar para a urna e o pavor tomou conta de mim:  O meu outro EU permanecia dentro do caixão, adormecido, placidamente.
Olhei para mim, para minhas feições,  e eu estava pálido, porém atraente num clássico terno Armani, inclusive era a primeira vez que o vestia, um avant-premiére por assim dizer .  Percorri-me dos pés à cabeça à procura de algo que fizesse algum sentido, mas não fazia. E o certo é que eu não poderia mudar o destino e nem fato de ser eu a pessoa que se encontrava no interior da urna.

Continuei por ali dissecando o significado de cada uma daquelas feições, e aproveitando-me da poltrona vaga ao lado de Belinha, sentei e fiquei olhando para ela na tentativa de traduzi-la. O seu olhar ainda permanecia vago, era como se ali nada trouxesse interesse, portanto Belinha fuçou o interior da bolsa e retirou o aparelho celular. Iria ligar para alguém? Não, não ligou para ninguém, e apenas apertou a tecla e acendeu o Smartphone, e entrando na secção de games e procurou por um conhecido jogo de cartas. Por Deus! Como uma mulher poderia jogar "Paciência" num momento daquele?  Talvez o ato tenha me deixado circunspecto, portanto me aproveitei do seu entretenimento para revisar um pouco de nossas vidas, e algo da minha própria história. Certo, óbvio que minha existência não denunciava um homem de plena retidão, mas eu até que fora um bom  sujeito para me ver morto aos 57 anos, quinze anos mais que os 42 de Belinha. Ah sim, falemos de Elisabeth! Era bonita, dona de uma beleza madura, mesmo que coisas em si fossem  lapidadas com tecnologias de clínicas mundialmente reconhecidas, além, claro, dos melhores cirurgiões plásticos deste  país. Eu também era um sujeito que não se jogava fora, mas por alguma situação que nunca conheci a fundo, eu e Belinha  jamais conseguimos nos relacionar satisfatoriamente como marido e mulher.  Recordo-me também que o estopim dessa frieza  acentuou-se após os nascimento de nossos dois  filhos, talvez até pelo fato da gravidez interferir em sua vaidade e na estética do corpo, pois desde a primeira gestação Belinha se recusou a fornecer o peito para fortalecer as nossas crias.

E foi assim que os nossos dois filhos se criaram, e com o tempo ela acabou se tornando tão distante e indiferente com eles, assim como sempre fora comigo, e não me houve outra alternativa a não ser a de aceitar o fato. Porém, neste espaço de tempo, e mesmo que distantes estivéssemos, tentávamos ser cordiais um com o outro.
Ah sim! Acredito que queiram saber sobre o sexo em nossas vidas.  Bem..parece-me que isso nunca lhe trouxe grande importância, e há muito deixáramos de viver a sexualidade, inclusive nos últimos 12 anos passamos a dormir em camas separadas; Não consigo me mexer com você aqui! - Ela disse numa bela manhã ao comunicar que a partir daquela noite eu passaria a dormir num dos quartos de hóspedes. Como nossa vida de então apenas resumia em um cutucar as costas do outro pedindo por mais espaço, até que não me importei.

Ah Belinha, Belinha Belinha! Ela era rápida no raciocínio, tanto com a vida quanto naquele malditas fileiras de cartas que aos seus ligeiros toques ruíam com uma facilidade espantosa. Levantei da poltrona e fui à porta do salão, e na parte externa algumas pessoas conversavam discretamente. Voltei para a sala e olhei para o meu filho Cláudio de 22 anos, e ele permanecia sentado num canto oposto acariciando o joelho da sua amalucada namorada, uma criatura que nos fins de semana nos deixava em polvorosa ao fazer topless em nossa piscina, mesmo que diante do constrangimento meu e de Grace. Sempre achei incrível aquela garota desfilar por ali como estivéssemos numa praia para nudistas, e o mais curioso é que Belinha jamais se importou com a nudez dos seus seios, talvez até pelo fato da jovem ter peitos pequenos, flácidos e com muitas estrias. Quanto ao Claudio, ele cursava o penúltimo período numa universidade federal, optando por caminho oposto ao meu e da irmã  filosofia.
Eu achava estranho aquele rapaz tão comunicativo e fã das reflexões de Platão e Sócrates ser totalmente avesso aos valores de família, pois para ele tanto faria se saíssemos de casa e nunca mais voltássemos. Aliás, melhor dizendo, não se importaria, mas desde que continuasse a  depositar em sua conta a substanciosa mesada mensal
E sobre ela, diversas vezes me perguntei em que usaria aquele dinheiro, pois jamais o vi na posse de cosias de valores relevantes.

Ah sim, claro, estou esquecendo alguém nessa minha lista de sentimentos; Valquíria, a secretária.
À respeito dela começo por aqui mesmo; no velório. Valquíria permanece sentada ao lado de Grace, e em seus olhos apenas as marcas das lágrimas ressecadas, e um ar tristonho. Ah Valquíria!  Mulher soberba, linda, 35 anos, e que há quase oito trabalha comigo. Recordo-me que foi numa festa de comemoração de ano novo no meu escritório que o surpreendente interesse por aquela garota surgiu.
À época ela  estava conosco há menos de um ano, e por necessidade, pois perdera o marido, atropelado pelo violento trânsito de São Paulo .Pensando sobre os olhares daquela noite, é mais provável que a minha carência aliada à dela e ao ótimo uísque Johnnie Walker servido na festa nos despejaram em nossos colos. Valquíria era um criatura doce e eu costumava compará-la à suavidade do Chanel Número Cinco, e as suas curvas ao violão de madeiramento nobre. Óbvio, com o passar do tempo aconteceu o inevitável, e nos tornamos amantes. Sobre Valquíria é sempre bom relembrar do seu demasiado zelo, do seu cuidar esmerado e eficiente dos assuntos do escritório,  do seu dedicar igual apreço a mim e às minhas coisas pessoais. - “Eu te amo!” - Ela dizia a toda manhã ao ir ao meu encontro na sala. Depois disso ela me beijava a boca e saia porta fora rescendendo.um perfume bom Sim, isso me causava a sensação de bem estar, de compensação, algo como a vida devolvendo um amor que fez que me deu, restituindo à frações algo que me usurpou sem comunicar.
Em suma, eram essas as pessoas do meu relacionamento e todas se encontravam  no meu velório.


Bem, já assumido na pele do fantasma que não tinha o que fazer, zanzei por entre alguns figurões do mercado jurídico, e até me surpreendi  com a presença do meu inimigo mais notório; O  advogado Lauro Carvalhaes. Como a sua fisionomia sempre me ocasionou asco resolvi sair dali e caminhei até a cantina do cemitério onde algumas de minhas estagiárias comiam salgados junto de refrigerantes, pois a surpresa da morte  não lhes dera tempo para a refeição. Mais uma vez pensei naquela insanidade toda e me convenci que  só poderia ser obra do Todo Poderoso. Era mais que certo que sua infinita misericórdia me permitia reviver as 24 horas que antecederam a minha  morte. E talvez a parafernália toda era para que me acostumasse com a situação e absorvesse a sua inquestionável decisão. Repentinamente sentia-me elucidado e feliz, portanto voltei para o caixão retomando o corpo do meu outro EU.
Ali e em paz cerrei os olhos e deixei-me levar. - Seria maravilhoso  retornar e reviver o meu último dia -


O Dia da Morte.

7:00 hrs :

Jamais necessitei de despertador, e não seria agora, morto, que necessitaria dele. Como de hábito acordei e e fui ao toalete para uma ducha e depois fiz a barba.  Após o ritual que me tomou mais de 40 minutos desci para a sala de inverno onde o café da manhã estava servido. Ali entre croissants, frios e frutas foi que tomei uma xícara de café o preto junto de duas unidades de pão de queijo. Terminado, engoli dois sucos de laranja enquanto tentava ler as manchetes do jornal . Recordo-me exatamente o que foi dito por Belinha antes de nos deixar à mesa:

-Querido, estou de saída. Preciso fazer compras para casa. Antes, porém, vou dar uma passadinha no cabeleireiro pois marquei hora. Se sobrar tempo darei uma pulo no shopping para comprar alguns jogos de cama e mesa, pois estamos precisando.

-Sim, querida! Também estou indo, pois tenho um processo urgente e que preciso rever as posições - Confirmei ao também abandonar a mesa.

Após nossa comunicação relembro que nos despedimos com a frieza dum encostar de lábios nas faces. O  milagre se daria a a partir daquele momento, pois  enquanto o outro EU físico se dirigia ao trabalho, eu, o espírito fantasma, viveria o meu dia com cada um deles na despedida oficial. Convém lembrar que espíritos são espíritos, portanto transitam em todos os lugares e a qualquer momento.



8:00 hrs:

Belinha tirou uma das nossas Mercedes da garage e eu, o “Ghost New Version” sentei-me no banco do passageiro. Ela partiu e após percorrermos algumas ruas conhecidas ela toma um atalho para a Radial Leste, diga-se,  um trajeto estranho e bem distante ao que daria oposto no salão de beleza. E assim que entramos na Radial rodamos por coisa de meia hora  até estacionamos numa ruazinha da Vila Carrão,    endereço qual não tinha qualquer referência.

Belinha, saindo do carro andou alguns metros e tocou a campainha duma casa de aparência simples. Menos de um minuto  e um garotão aparentando uns 23 ou 24 anos saiu pela porta, e sorrido caminhou até o pequeno portão de ferro vazado na entrada. Ali eles se beijaram selvagemente. Aborrecido foi que percebi que ela se sentia à vontade nos atléticos braços do rapaz. Mesmo que à distância eu podia notar-lhe a proeminente musculatura do corpo, talvez conseguidas às custas desses anabolizantes que se destinam aos animais. Notei também também seus sorriso ao caminharem abraçados pela viela dum pequeno jardim até ganharem o interior da casa.  Belinha lembrava uma colegial, e apesar de reconhecer que não tinha motivos, foi-me impossível não segui-la. Porém travei meus passos à porta da entrada e aguardei alguns minutos até que decidi entrar.  Já no interior da casa ouvi sons da voz masculina, algo que me remetia aos urros do leão, diante os gemidos sufocados de Belinha. Aturdido caminhei até a porta do quarto entreaberta e olhei para o interior. O que vi me deixou desconsertado. Simplesmente eu não podia acreditar que fosse ela.  Belinha agora urrava enquanto o rapaz entrava impiedosamente por trás. Seus modos eram grosseiros, e ele dizia coisas pornográficas e  batia ambas mãos espalmadas no bumbum da minha mulher. Eu os assisti boquiaberto, e mesmo que não quisesse ver não consegui desgrudar os olhos da cena. Estranho, mas meu meu coração descompassava. No fim, saciados como felinos após o deguste da caça largaram-se na cama.

Reprisei cada uma daquelas cenas amantes com o ar surpreso, pois  Belinha jamais admitiu que sequer tocasse um dedo em seu traseiro.  Em seguida acenderam cigarros e ficaram por lá fumando até apagá-los num cinzeiro de letão.Terminado, dirigiram-se ao banheiro, e eu ouvi um barulho de chuveiro elétrico. Suas vozes tinham o som da alegria, da felicidade, e pude reparar o imenso carinho que havia entre eles. Ainda perplexo sentei no sofá da sala e fiquei aguardando por eles. Será que haveria outras surpresas?  - Perguntei-me - Minutos após ouço vozes satisfeitas saindo do quarto, e eles vinham abraçados e aos beijos. Definitivamente, Belinha, agia como uma adolescente e pouco se importava com as mãos dos garoto apertando as suas nádegas por sobre o vestido floral.

Ali no portãozinho de ferro eles se despediram num apaixonado beijo.  Depois eu a vi retirar o tolão de cheque da bolsa e destacar um folha já preenchida e entregar a ele. Ele olhou para a folha e sorriu. Não era à toa que era necessário ganhar rios de dinheiro - Concluí com certa amargura.
Ao fim ele acenou para ela com uma feição idiotizada quando ela entrou no carro e se acomodou no conforto do banco de couro. Enraivecido sentei-me no banco ao seu lado. Porra! Eu gritei para ela, claro, em vão. Que o fedelho anabolizado fosse ganhar seu próprio dinheiro - Resmunguei para ela; tempo perdido, mortos não são ouvidos.
Como era de se esperar, no caminho de volta não houve qualquer cabeleireiro ou ao shopping center, e mesmo que eu estivesse em casa Belinha encontraria as justificativas, apesar de jamais ter inquirido sobre os seus destinos
Chegamos em casa pontualmente ás 10:00 hrs, e Claudio que, acordara fazia pouco ainda deglutia o seu café da manhã.



10:20 hrs :

Sentado à mesa eu o observava; Cláudio parecia demasiadamente com a mãe. Terminado o breakfast levantou-se e se dirigiu à biblioteca onde usou o telefone. Claudio aguçava a minha curiosidade, pois com ele, fora as brincadeiras, tudo era sigiloso, aos sussurros., portanto o segui. Me postei atrás dele e com certa surpresa vi que ele discara o número do escritório, apesar de ter dado a cara por lá uma vez na vida.

-Alô, é o meu tesão? –  Ele galanteou num tom meloso e safado. A conversa íntima continuou caliente e sussurrada

-Então ta!  Te pego naquele lugar de sempre, às 13 horas. Ok? –  Foi o que ele comunicou à pessoa e desligou.

Aquele garoto era mesmo um filho de uma mãe! - Pensei -  Fatalmente o danado estaria se relacionando com uma de minhas estagiárias por debaixo dos panos. Bem,  não podia recriminá-lo, nem a ele e nem ao seu bom gosto, afinal, havia belíssimas garotas trabalhando em meu escritório.  Claro, eu nunca me aproximara de qualquer uma delas, já que Valquíria sempre se manteve por perto. Aliás, não só ela, mas o seu ciúmes doentio também. Portanto, eu jamais cutucaria a onça com vara curta.

La em meu escritório, e passado poucos minutos Valquíria estaria pedindo ao meu EU para  sair no horário de expediente, já que iria ao ginecologista para uma consulta importante – “Estou com muitas cólica e pequenos sangramentos” Ela disse num sorriso que pareceu preocupado. Inquieto o EU perguntou-lhe se seria algo sério, ao que ela respondeu que não, pois deveria ser algum processo inerente às menstruações ocorridas em datas cada vez mais imprevistas.   Assim o assunto foi encerrado com a nossa autorização; “Vá sim meu amor.”  Foi o que lhe dissemos.
Por volta de meio dia e vinte ela fechou as gavetas, arrumou a mesa e  despejou um pouco de água nas flores acomodadas em pequenos vasos colocados na estante dos meus livros jurídicos.


12: 30 hrs :

-Querido! Estou indo, porém antes das quatro estarei de volta – Ela comunicou -  “Tudo bem, amor!” – Respondi.

No entanto o que Valquíria não sabia foi que, ao se retirar estava levando o fantasma.
Sentei-me no banco ao seu lado. Ela  ligou o, contato do Honda Civic que lhe dera de presente em seu último aniversário, e nos mandamos dali. Recordo-me que daquela noite e da sua retribuição ao presente; Valquíria me brindou com uma das mais espetaculares galopadas que dei em toda minha vida. Bem, deixando as recordações de lado percorremos algumas avenidas, tomamos o caminho para o Butantã, até que surpreendentemente desembocamos na Rodovia Raposo Tavares. - Putz, ela não poderia ter um médico mais próximo? - Outra vez me questionei.  A dúvida cedeu à decepção quando ela deu seta e entrou numa saída à direita e seguiu por uma pequena rua de paralelepípedos, depois percorreu as bucólicas alamedas dum motel de refinadas suítes, aliás, foi lá que eu a levei numa das primeira vezes ao locar uma das suas melhores suítes com direito à cachoeira, piscina e um florido jardim de inverno.
Não seria diferente, e eu estava estarrecido e decepcionado; Então era assim que funcionava?  Traição com um cafajeste qualquer?.  Era o reconhecimento que eu merecia? Quanta mentira e dissimulação! Valquíria  me enganara por todo o tempo. Eram falsas as suas atenções, os seus cuidados ao me tratar como um bebe.  Maldita mentirosa! – Ah, como gostaria de poder estar vivo naquele momento!

Mas, coisas piores ainda estavam por acontecer; A carinhosa recepção da atendente evidenciou o fato que Valquíria era pessoa conhecida por lá. - “Dona Valquíria, ele já está aguardando a senhora na suíte 15" A moça a comunicou com um sorriso profissional impregnado nos lábios. Por coincidência quando estivéramos ali também escolhi a mesma suíte, VIP, pois pretendia causar-lhe uma ótima impressão.
E agora era isso?  Fatalmente Valquíria estava sacaneando outro trouxa, talvez mais milionário, um babaca endinheirado, mesmo que eu nada pudesse fazer –
E assim, com o coração com novo descompasso foi que entramos na garage privativa e ela saiu do carro, acionou um botão na parede e a porta de aço da garagem se fechou atrás dela . Em seguida subimos quatro lances de degraus e adentramos a suíte onde o homem a esperava.

-Val, minha putinha safada! Que saudades de você e dessa sua bundinha deliciosa! – O sujeito disse escrotamente. - Merda! O sujeito eu conhecia, era o meu filho!

E mais uma vez á tudo eu tive que assistir. Sentei numa poltrona defronte a cama e fiquei olhando os seus atos de carinho, as bolinações, os risos escandalosos  e chupadas animalescas, Valquíria também fazia amor duma maneira que jamais fizera comigo. Até sexo oral que vez ou outra praticávamos diante seus veementes protestos, desde que interrompido no momento do gozo. Sim, era isso que ela fazia ao gemer de prazer, incentivando-o a atingir o clímax em sua boca. Eu vi a tudo, impassível, magoado. Vi as cenas tórridas e não me excitei, pelo contrário, enojei-me.
Por último, Valquíria e Claudio se banharam na piscina, voltaram para a sala principal e Claudio solicitou a recepcionista:

- Um Moet Chandon, no gelo, por favor, moça! - E depois concluiu – “Ah sim, poderia fazer o obséquio para aqui 30 minutos servirem o nosso prato de minha namorada!  Lagosta ao creme de aspargos com champignons - Ele solicitou com a pompa de um biliardário - Ah...Então era assim que o safado torrava a minha grana! Eu acabava de entender.


15:30 hrs :

Logo após a refeição abandonaram o motel. Ela rumou para o escritório enquanto eu e o Cláudio voltávamos para casa. Pai e filho, se fôssemos irmãos, Caim e Abel.
Cheguei em casa arrasado; Como ele se atrevera  a seduzir a única mulher pela qual nutria algum sentimento?  Ainda mais ao vê-la daquela forma, indefesa hiena sendo devorada  por um vigoroso e jovem leão.  E isso me doía, afinal, será que ele não tinha percebido que eu e Valquíria eramos amantes? E mesmo que eu estivesse vivo Claudio se defenderia  alegando desconhecer o fato, sempre o maldito papo furado. Claro, essas horas são as que se destinam aos hipócritas, e, infelizmente o meu filho era mais um deles. O meu coração batia ainda mais descompassado e dolorido, pois a minha despedida se dava diante um oceano de decepções. E Claudio, mesmo que não soubesse, me magoara tal qual a mãe com o Mister Músculos.
Enfim, qual seria a verdade de Valquíria com relação a mim? Será que ela não gostava de fazer amor comigo, ou que meus beijos e carinhos não agradassem?. E isso me aborrecia, macho ferido, a cicatriz aberta expurgando sangue, a minha consciência se questionando de não ter sido o bastante para uma fêmea, a morte zombando de mim ao fazer-me ao ver um amor que jamais foi feito comigo.
Portanto, doía e doía, e eu tinha que admitir.
Voltamos para casa, e eu me sentia um fantasma idiota por ter clamado para voltar, e o pior, ter passado por isso. Não, não! Definitivamente Deus não teve culpa, e se houve um culpado, esse fui eu - Tive que consentir.
E outra; Deus jamais permitiria que eu fosse enterrado com mágoas no peito, e assim me deu Grace, a parte doce da minha vida, uma flor repleta de belezas e que desabrocha, e era só com ela que poderia contar. Ela e mais ninguém. E quanto a mim?  Justo comigo que procurei servir a todos, do meu jeito, é claro, mas...servir a rodos.


 16:00 hrs :

Entrando em casa ouço cochichos e o reconhecido riso feminino vindos da biblioteca. Entro pela porta e vejo uma Grace esfuziante ao telefone. Reparei- a bem e ela parecia feliz e os olhos cintilavam e a meiguice em sua voz  fazia-me perceber que dedicava especial carinho à pessoa na outra ponta

-Sim amor, estou de saída! Não, não! Não há problema algum. Não, não  me esqueço, inclusive já coloquei na pasta. Sim! Levo sim. Estou indo para o escritório, mas antes eu passo na tua casa. Ok? Beijos! Amo-te!

Surpreendi-me, afinal Grace nunca me falara de algum atual namorado, pois sempre foi reservada e discreta com a sua pessoalidade.  Todavia a culpa também deveria ser minha, já que tinha andado demasiadamente ocupado para falarmos sobre o que pudesse causar sensibilidades, ou mesmo, o amor. Ao contrário, conversávamos sobre ações, linhas de processos  e teses jurídicas, e os traçados a serem seguidos E não parávamos por aí, não! Discutíamos sobre contestações, defesas, apelações, sobre   incertezas, probabilidades, tão notória a minha ausência nas coisas da trivialidade do seu dia a dia, fatos que, agora conclusos não havia como remediar. E eu lamentava por isso.



16:30 hrs :

Grace tira o carro da garagem, e eu ali, firme, e ao seu lado. Minha hora estava chegando e nada mais justo que passar meus últimos instantes ao lado de quem mais amei nessa vida. Era importante aproveitar cada segundo antes das cinco e meia, o prazo final para que retomasse meu corpo á fim de morrer em paz e ser enterrado decente.  Eu estava feliz por vê-la tão linda e animada, naqueles cabelos que cintilavam ao sol e ao prazer do vento. E eles esvoaçavam, tonalidade avermelhada que combinava magicamente com as linhas suaves e femininas do rosto. Assim que paramos no primeiro semáforo os olhares dos homens através das vidraças dos carros eram todos dirigidos a ela, e ela parecia nem se importar. Ah, que menina de fibra! E ter fibra era o traço marcante de sua personalidade
O sol reinava soberanos e as nuvens brancas adornando um céu límpido e azul tornavam os momentos sublimes, uma tela de Picasso acrescentando os retoques finais para a posteridade Era eu me despedindo das ruas de São Paulo, da terra que amei e certamente  por ela fui amado. Apesar de todas  as decepções daquele dia eu estava grato ao Todo Poderoso por permitir-me tais instantes.


16:50 hrs :

O carro seguiu até darmos num endereço do Jardim Europa, bairro próximo ao lado de nossa casa e bem próximo de nosso escritório. Ruas amplamente  arborizadas combinavam com a imponência de suntuosas  mansões. O nosso carro parou em frente à  um imenso portão de ferro fundido com motivos de anjos e demônio, um contraste mais que perfeito. Eu conhecia aquela casa, portanto foi surpreso que a vi sacar um controle remoto da bolsa e acioná-lo, para lentamente abrir-se o portão.
Eu senti um arrepio na alma:  O que poderíamos fazer ali?
Grace deslizou suavemente o carro pelas alamedas floridas, e alguns metros adiante estacionamos na porta da mansão de estilo renascentista. O rosto maduro de alguém com feição asquerosa e aristocrática veio em nossa direção. Eu o olhei aterrorizado; Era Lauro Carvalhaes. Pai de Cesar Carvalhaes.
Cafajestes!  – Pensei –  Cesar nem se dera ao trabalho de receber a minha filha com o entusiasmo que um namorado recebe a mulher que ama. Conclui aborrecidamente.

-Oi querida! Trouxe-nos os dados? -  Lauro perguntou sorridente ao se aproximar de Grace. Estranhei a questão - Quais seriam os dados ao que o lobo se referia?

Foi então que o mundo explodiu como se tivessem jogado a bomba, não em Nagasaki, mas dentro de mim. Óbvio, eu podia sentir a traição.

-Trouxe sim, amor! – Minha filha responde com olhos resplandecentes e apaixonados.

 “Amor.. amor? - Eu balbuciava petrificado. Foi o instante que tudo compreendi.

 -Sim! Está comigo a cópia da petição que meu pai impetrará na próxima quarta. Ai, Lauro! Sinto como estivesse enfiando uma adaga no coração de papai – Ela diz num tom preocupado e de quase remorso.

-Não se desgaste com isso minha flor! Ele jamais saberá do nosso segredinho! – O cão sorriu para Grace com o indicador apontando para a pasta que ela trazia - Depois completou;

 -Assim que resolvermos essa causa, prometo-te que teu pai ficará ciente do nosso relacionamento. Já decidiu em que país pretende passar nossas  núpcias?  – A velha raposa pergunta numa tonalidade afetada, mas confiante.

-Ai, Lauro, se ele souber... - Ela devolveu divagando. Depois completou: -Apesar  que você tem razão, e ele há de entender o nosso amor apesar do antagonismo que há entre vocês. Mas...como afirma que nossa felicidade depende disso, está aqui está o que você necessita, pois sei que dessa vez o seu contragolpe será definitivo – Grace respondeu com a voz dos apaixonados ao entregar-lhe o envelope.

Com a minuta da minha contestação em poder de Lauro foi que se beijaram apaixonadamente, ou pelo menos Grace o beijou apaixonada. Antes de se despedirem Lauro passou sutilmente a mão pelo traseiro de minha filha, e eu senti vontade de matá-lo. Porém eu já estava morto, e morto não mata ninguém.
A insanidade  que se apoderava de minha filha a tornaria refém dum sujeito  quase 40 anos mais velha que ela?   Por Deus! Os contrastes entre eles eram degradantes!
E eu bem reconhecia um lobo na pele de cordeiro, conhecia a falsidade daquele sorriso dissimulado.
Ah...como eu gostaria de estar vivo e alertá-la: - Filha! Caia fora enquanto há tempo! Esse sujeito não presta e só está te usando! – Mas, mortos sequer falam, protestar então...
Sim, óbvio! Lauro é um advogado brilhante, poderoso,  desses que enchem sua casa com suntuosas festas para magistrados, todas regadas à caviar e  uísque 25 anos, e os meios forenses não desconhecem os fatos. Ah Lauro! Advogado maldito, inescrupuloso, desses que são capazes de plantar provas provas, corromperem testemunhas, venderem a própria mãe desde que lhes traga algum benefício. Antes que saíssemos eu o ouço sussurrar tão falso como uma nota de mil.

-Então amor! Aguardo-te às 10 da noite aqui em casa! Estou doido para ficar com você! Adoro esse esses teus seios  que...que...  - Ele diz com cara safada e gestos exagerados de quem carregaria nas mão seios como o volume das bolas de boliche.

 Ah, Deus! Como eu gostaria de matar aquele sujeito enfiando em sua pele um milhão de agulha
Grace sorriu constrangida e nada respondeu. - "Pústula!" - Ruminei entre dentes. Não me admiraria se que o miserável comprasse todo o estoque de Viagra das farmácias da redondeza



17:05 hrs:

Entro no carro de Grace e sento no banco do passageiro. Eu olho para ela e  tristeza e decepção me invadem. Repentinamente nada mais faz sentido. A vida não faria sentido, a morte agora parecia fazer algum. Olhei mais uma vez para o seu rosto bonito,  pros cabelos avermelhados e as lágrimas me desceram conforme o carro  abandonava as paisagens bucólicas das alamedas da mansão. Eu não sabia que espíritos choravam, mas sim, espíritos choram. Fora-me um rude golpe, o mais doloroso de todos eles, e,  infelizmente eu não estaria aqui para amortecer a sua queda quando despencasse no precipício.


17:26 hrs :

O carro de Grace adentra o portão do nosso prédio e ela se dirige para o estacionamento quando repentinamente os batimentos cardíacos acelerarem de forma estupenda e descompassada.
As pulsações são demasiadamente rápidas e eu posso sentir tais latejamentos no céu de minha boca.
E a aceleração evolui rápida, cada vez mais rápida e eu sinto um desconforto no peito. Ao entrarmos no escritório aceno com a mão para as recepcionistas, enquanto Grace se encaminha para a sua sala e eu rumo para o meu escritório, porém com certa dificuldade.


17:28 hrs

Ao adentrar minha sala deparo-me à frente do outro EU, e tanto ele quanto eu levamos as nossas mãos ao centro do peito: Era a dor, insuportável, definitiva. Ele e eu sentíamos nossas pernas pesadas e o ar pareceu rarear em nossos pulmões. Desabamos.                                                                


17:29 hrs

O som do meu corpo ao cair é grave e minha filha vem às pressas e grita ao me ver desabado. Minha mão continua espalmada em meu peito, a voz não sai, e apenas dói, dói muito, uma dor que não cessava,  e vieram outras pontadas mais intensas.
Decorrido talvez menos de um minuto sinto algo preencher-me; É a reincorporação do meu espírito.


17:30 hrs:

E foi assim num fim de tarde cheirado a mormaço, fumaças e textos jurídicos que exalei meu último suspiro. Antes ainda houve tempo de mover os lábios na intenção dum derradeiro beijo em Grace.
Logo após tentei sorrir para elas.
Foi a última imagem que tiveram de mim, a fotografia de um sorriso trajando amor e perdão.

Eram exatamente dezessete horas e trinta minutos quando entrei em óbito.


Copirraiti 15Set2007
Véio China©