sábado, 15 de setembro de 2007

Porfírio e a cúpula do trovão.


- Alôuuuuuu! – Perguntou a voz do outro lado.

- Agência de detetives “Faro fino”! – respondi tentando ser agradável.

- Por favor, gostaria do falar com o senhor Porfírio! – insistiu numa voz irritante e que por momentos me relembrou a voz de uma garota que fez um antigo comercial de shampoo.

- Sim! ele mesmo. Em que posso ajudá-la? – disse-lhe pigarreando

- Senhor Porfírio, o meu chefe gostaria de marcar uma entrevista com o senhor. È urgente, viu? –concluiu.

Na manhã seguinte, 8 horas, lá estava eu no endereço que Tina havia me passado na ligação. Aliás, não só eu como também meu terno panamenho e de ombros largos. Era curioso e causava um certo mal estar a qualquer pessoa que me analisasse vestido naquele terno. Ao levantar-me, fiz o meu café da manhã, um café preto e forte e o digeri com algumas bolachas água e sal já que a manteiga, aliás, margarina acabada e então fiquei lá vendo o pote vazio e raspando a ponta do indicador pelo seu fundo até retirar de lá alguma coisa que fizesse me lembrar do sabor. Tomei banho fiz a barba e escolhi o melhor dos dois únicos ternos que eu tinha. Era 7 horas da manhã quando desci do apartamento e entrei no meu Gordini que sempre deixava estacionado em frente ao edifício e não havia qualquer preocupação em deixa-lo ali, parado e ninguém haveria de se interessar no seu roubo -ladrões são idiotas mas não são otários- eu pensava. Liguei a chave de ignição, dei as 15 bombeadinhas de praxe para ser injetada a gasolina no carburador e pedi a Deus que ele pegasse. – Vrhummm.... rugiu alto – então parti. Bom, foi assim que eu estava parado ali na frente daquele belo edifício comercial numa das ruas mais chiques da cidade e a fachada imponente e envidraçada, de vidros que certamente seriam Ray-ban me deu a dimensão exata com quem estaria me entrevistando.
Na portaria fizeram-me entregar um documento e me enfiaram no puído bolso superior do paletó um crachá de identificação – VISITANTE – e eu partia para o 25o andar daquela suntuosidade.
Dentro do elevador me olhavam curiosos já que era o meu terno panamenho destoante de todos aqueles que se encontravam naquela cabine num festival de grifes caras e sapatos em cromo.

-Por favor senhorita, marquei uma entrevista com o Sr. Herbert – disse a estonteante secretária que me atendeu com um sorriso cordial mas um tanto desconfiado.

-A quem devo anunciar? – Meu Deus! Era ela! Reconheci a voz de imediato e não me conformei em ver tanta beleza perdida ali naquela voz irritante.

-Porfírio, o meu nome é Porfírio – Riso cretino no rosto.

-Ah sim! o Sr. Herbert o aguarda! – Dito isso me encaminhou para a sala do Sr Herbert e, quando ela se levantou para encaminhar-me vi luzes cintilando, era simplesmente sensacional e suas pernas numa sai cinco dedos acima do joelho eram excepcionais e o perfume suave, feminino, demolidor, fez-me rastejar atrás daquela fêmea como se eu fosse um animal no cio.

O Sr. Herbert me aguardava com olhos de poucos amigos e então indicou o lugar onde deveria sentar. O seu escritório era impressionante de belo e a mobília riquíssima imperava soberana e contrastava com todos os objetos de decoração que haviam por lá.. Num dos cantos de uma estante repousava uma coleção de miniaturas de carros esportivos e eu reconhecia aqueles carrinhos num festival de grife automotiva e as Ferraris, Lamborguines, Mercedes e Porches desfilavam. Num dos cantos de sua mesa havia uma caravela, linda, minuciosamente construída por algum artesão e que dava um certo ar de nobreza ao ambiente.

-Senhor Porfírio! – sua voz era máscula e grave. E antes mesmo que eu abrisse a boca, continuou.

- O senhor me foi indicado pelo José, um colega seu de faculdade de direito e muito meu amigo.

- Ah sim! o Ernesto – Conclui dando a entender que sabia do que ele estava falando., afinal, na época da faculdade só na minha turma deveria haver uns 15 ou mais Josés.

E foi assim que eu soube, depois de termos acertamos os honorários e haver recebido em grana viva um adiantamento, que teria de investigar a sua esposa. Disse que um dos motivos foi às sucessivas ligações anônimas que davam conta que ela se relacionava com um dos seus funcionários e que, nessas horas, o denunciante nunca o deixava esboçar qualquer reação e desligava em seguida. A primeira ligação fora há mais de 30 dias e após muita insistência a srta Tina havia passado a ligação dizendo que o sujeito insistia que tinha “informações importantíssimas” a lhe fornecer. Foi dessa forma que ele soube. Saí da sua sala munido da fotografia da esposa e com alguns dos endereços que ela tinha por hábito freqüentar. A porta fechou-se as minhas costas e então sobraram Tina e eu e perdidos ali na imensa recepção. Talvez estivesse me precipitando mas, senti algo de carinhoso no seu olhar ao se despedir de mim.

-Aguardamos o seu contato, Sr. Porfírio – Disse-me antes de atender uma ligação.

Magicamente a sua voz não me pareceu irritante desta vez. Fui para o hall do elevado e chegando, desci e o seu perfume ainda impregnava o meu olfato num cheiro que não mais existia mas que imaginava ainda estar ali.

Naquela mesma tarde liguei para o escritório. Não, eu não tinha notícia nenhuma e era só o pretexto para ouvir a voz de Tina. No fim da tarde estava lá, de prontidão esperando Tina sair. Vi quando partiu do estacionamento com seu Simca Chambord prata, a segui sem não antes deixar de dar as 15 bombadas de praxe. Nos dirigíamos em direção das Perdizes e foi lá, diante de um Bar, uma espécie de "cafeteria" que seu carro estacionou.
Entrou- Sai do carro e passei e parei diante da fachada e olhei por entre as esquadrias envidraçadas e a vi encaminhar-se para uma mesa de canto, solitária. Fiquei ali, zanzando, sem saber o que fazer e a vontade de entrar era enorme mas, não sabia se deveria faze-lo ou não. Tina não era dessas garotas do meu meio, uma porra louca, boemia, de vida e de hábitos tortos. Definitivamente não o era. Voltei para o meu carro, dei as 15 bombadas e parti – houvera amarelado tal qual a gasolina que insistia em não subir para o carburador.

Na manhã seguinte lá estava eu de plantão próximo da mansão do Sr. Herbert. Fiquei lá por umas quase 3 horas quando um Mercedes Benz deixou saiu dos seus jardins.- era a dona Helena- Bombeei o costumeiro e pedi para que ele não falhasse e, partimos. Segui-a por todo aquele dia e nada houvera de espetacular nas coisas de praxe de uma mulher rica; cabeleireiro, shopping, compras e mais compras e um almoço num dos melhores restaurantes da cidade.. Evidente, aguardei do lado de fora, distante e me contentando com os dois sanduíches de pão francês, presunto e mussarela que havia levado, afinal, sou previdente. No fim da tarde ela rumou de volta para casa e ao vê-la adentrar os jardins dei meia volta e fui embora.
Na manhã seguinte toca o telefone.

-Alôuuuuu, agência de detetives faro Fino – eu disse, tentando transmitir segurança a um possível qualquer cliente.

- Porfírio? –

- Sim! ele! – Eu já sabia quem era e aquela voz era inconfundível. – Ela disse que estava ligando pra matar o tempo já que o patrão havia ido para a Argentina cuidar de alguns negócios e que o seu trabalho intenso só se dava na presença dele, com ligações, atendimentos, papeis, cartas e todas essas burocracias executivas. E ficamos ali conversando por mais de uma hora e era gostoso ouvir a sua voz, aguda e a qual eu já estava me acostumando. No fim da nossa conversa arrisquei um convite e já, antecipadamente acharia que não aceitasse.

- Eu adoraria, Porfírio! Ok! Você pode me pegar as 20,30 –

Eu não podia acreditar! Naquele dia não me preocupei com a dona Helena – ela não me interessava de momento- No horário combinado lá estava eu em frente ao endereço que ela me dera. O prédio era simples mas de arquitetura bonita. Estacionei em frente da portaria e a vi descer magnificamente aqueles provavelmente doze degraus até entrar no meu carro. Fiquei constrangido mas, ela, me pareceu simples e natural ao sentar no banco do passageiro do meu Gordini. Eu quis causar boa impressão e lavá-la num bom restaurante e indiquei o nome para onde iríamos, mas, aquela garota além de mágica sabia das coisas;

-Porfírio, não! Vamos num lugar mais simples. Não podemos nos dar ao luxo de jogar dinheiro fora já que não somos ricos – Acho que ela entendia o meu terno de ombros panamenhos melhor do que eu. Naquele momento vislumbrei uma jogada genial e disse que conhecia um lugarzinho delicioso em Perdizes e, qual não foi à surpresa dela ao me ver parar em frente daquele Bar- Cafeteria. –eu era um mestre, alias, um detetive mestre-
E ali conversamos por horas e eu soube a criatura meiga que ela era. A agudez da voz tornava-a cativante como se fosse uma menina adulta dentro daqueles olhos vorazes e negros. Ali eu soube da sua vida, das suas tristezas, das alegrias e até de um noivado de quase 9 anos que terminou uma semana antes do altar. De lá pra cá se desiludira com os homens e os queria ver longe já que todos eram iguais. Senti meio desconfortável com essa observação mas, como era mágica e sutil logo deu um jeito na situação. Ali entre os drinques, entre os meus bloodmarys e os seus matines com azeitona fomos próximos, íntimos, suaves e românticos. Lá eu vi lagrimas brotarem ao falar da mãe partida há mais de um ano, e da única irmã, casada e que morava em Recife numa vida difícil. Disse que havia pedido para que voltasse para São Paulo que ela daria um jeito mas, que o que, o marido, um pernambucano arretado a mandou tomar naquele lugar.
Foi com as faces rosadas que fez essa observação. Era quase 11,30 da noite quando saímos daquele bar e rumamos para o meu apartamento. Dessa vez quase dei azar e o meu Gordini precisou de duas sessões de bombeadas para acordar. “ Vrhummmmm” E lá se fomos nós.
Amanheceu e o despertador pontualmente me acordou às 6 horas. Olhei para o meu lado e Tina abria os olhos e não havia como não me perder dentro daquele negro infinito e da boca de maçã. Beijamo-nos apaixonadamente, levantamos, nos trocamos e a levei para casa e as 8 da matina ela deveria estar formosa e sentada na mesa da secretária da presidência.
Jesus! –pensei-. Talvez fosse tarefa árdua descobrir qual o funcionário que trepava com a mulher do patrão – tarefa difícil para se descobrir um entre mais de 100 funcionários instalados naqueles 10 andares de propriedade da empresa. Aproveitando a ausência do patrão, pedi a Tina que me arrumasse todos as fichas de empregados homens que trabalhavam por lá. Ela, a princípio recusou – Ah! Porfírio não estou autorizada – Mas, com jeitinho eu soube persuadi-la já que o seu trânsito livre pela empresa permitiria que obtivéssemos sucesso.
Por volta das 8,30 da noite me deparei com um rosto que não me inspirou confiança;

-Tina! Veja esse aqui! Quem é?

-Ah! Esse é o Marcos Augusto, gerente de marketing! – Esqueça dele, Porfírio..é afeminado - Olhei praqueles olhos vedes dentro daquele rosto aparentemente másculo e só consegui expressar;

- Vejam vocês !

Ela riu, eu ri e continuamos olhando as demais fichas. Por volta das 10 da noite estávamos exaustos daqueles registros todos e então a convidei;

-Tina, vamos lá pra casa? Te pago um delivery de comida chinesa. Topas?

-Comida chinesa, Porfírio? Topo! É comigo mesmo! – Eu poderia estar enganado mas, e evidente, eu estava me apaixonando por ela. Novamente as 6 hrs da manhã o despertador me acorda e lá estavam os olhos negros e a boca de maçã. – eu estava me acostumando-

Pontualmente as 8,30, ainda manhã, lá estava eu e meus dois sanduíches de presunto bem próximos da esquina da mansão. Para minha surpresa, o Mercedes Benz ganhava as ruas.

-Pega, miserável! – Dessa vez na oitava bombeada ele pegou, pra minha sorte. Chegamos no mais luxuoso Shopping da cidade e ela adentrava uma das lojas mais luxuosas. Dessa vez eu a observei de perto e pude ver como era bela aquela mulher. Bom, ricos, geralmente se tornam belos mesmo não os sendo – supus – Ela estava num taieur lindíssimo, cinza, coisa de milionário e num par de sapatos, salto 15, vermelhos, belíssimos. Aquilo me chamou à atenção pois não achava que os sapatos combinavam com a sua roupa – coisas de milionários-. Aguardei sair de uma loja e a se foi por entre as ruas do complexo. Parei, disfarcei e a vi entrar num toillet feminino. Aguardei uns vinte minutos e ela não retornava e achei estranho o fato. Mais 5 minutos e saem algumas mulheres do toillet e entre elas eu distingui um lindo par de sapatos vermelhos, salto 15. numa bela mulher em óculos esportivos, enormes e escuros e um cabelo diferente, penteado pro lado oposto do lugar original. O taieur dera vez ao conjuntinho, jeans, comportado e jovem. Reconheci aqueles sapatos então era somente uma questão de seguí-los. Antecipei-,e corri pára o estacionamento e a prudência me dizia que devia espera-la do lado de fora do empreendimento. O carro, desta vez não me deixou na mão, foi na primeira..
Aguardava-a quando reparei uma moça bonita em conjunto jeans, na calçada em que eu estava, dando sinal para um Táxi.

-Ahhhhh, te peguei sua safada! Ouviu seu Gordini filho dumégua!, pegamos ela!- exclamei entusiasmado.

Segui o carro e o vi entrar num motel. Era um dos motéis mais caros da cidade. Entrei atrás e ainda vi o taxi entrar por uma daquelas pequenas ruas, cercadas por chalezinhos de aparência suíça. Ali, na cancela, em frente ao guichê de atendimento, parei e desci.
O recepcionista me olhou assustado :

-Garoto, por favor! Preciso pegar em flagrante essa dona que acabou de ser deixada pelo taxi – energicamente disse a ele.

-O senhor está louco? Vou chamar a gerência! – protestou nervosamente

-Calma! Calma, garoto! Disse tirando duas notas 100 cruzeiros – talvez o seu ordenado do mês- Ele me olhou surpreso mas percebi que seus olhos e feições abrandaram.

- E tem mais duas na saída se tudo dar certo! Como eu faço pra fotografar essa dona?

Ele então pegou as duas notas e me explicou o macete. E as fotos eu consegui pelo local que é servido a refeição e só foi esticar o braço e trazer com os dedos da portinha de correr e lá estavam eles sentados na cama. Ela já em calcinhas e ele com a calça aberta e lhe aparecendo à cueca. De onde permaneciam não se aperceberam do que se tratava já que era impossível distinguir a minha feição por detrás daquele pequeno duto. Tive que ser rápido e só foram três fotos que conseguira tirar deles antes que ouvissem as minhas desculpas, em voz afrescalhada.,

_Perdoem-me, atendi o quarto errado – O pedido era na suíte 315, Um Lapso, desculpem-me.

Na saída rápida, sei as restantes duas notas pro garoto, cumprindo o prometido. E além do mais, ele mereceu cad nota daquela e foi ágil ao me introduzir naquele corredor, desapercebido dos demais funcionários.Evidente que, isso, futuramente demandasse alguma posição judicial dos que se sentiram melindrados e quando isso viesse à tona, mas, pela minha experiência, nada aconteceria e ninguém é bobo pra dar a cara à tapa.
Chegando no carro é que pude retirar aquelas três fotos da máquina Polaroid já que elas estavam dependuradas numa única tira. Me ative cuidadosamente nelas e então;

-Opa! Conheço esse rosto! – exclamei surpreso com o que eu acabara descobrir.

Liguei o carro e duas esquinas à frente parei e liguei pra Tina.

-Tina! Aquele funcionário que eu havia cismado e que você disse que era “Biba” ta por aí?

- Não, não está não Porfírio. Ele deve estar em Campinas, numa empresa, divulgando a nossa nova linha de produtos.

- Tina! É ele!

- É ele o que, Porfírio?

- É ele, Tina! O amante da esposa do patrão!

- Não pode ser Porfírio! Ele é o empregado de maior estima do patrão. Está com ele há m ais de 15 anos e é !bicha. Você deve estar enganado. – disse atônita.

Bem, isso foi há quase três meses atrás. Evidente, o meu caso com a Tina não deu certo e ela era muita areia pro meu caminhãozinho. Eu simplesmente não merecia uma mulher daquela e não seria justo enfiá-la neste mundo de sacanagem e miserabilidade em que vivo. Mas, isso, apesar de triste não foi o mais curioso. Como era d esse esperar, o senhor Herbert deu um pé no rabo da sua mulher – divorciou-se e parece que fez um bom acordo com ela. No fim do serviço me chamou e pagou-me regiamente, duas vezes mais que o combinado. Agora, uma coisa me chamou à atenção naquele dia e dentro da sua sala.
Eu já estava na porta da sua sala para as despedidas quando ouvi uma outra voz vinda do toilllet do escritório

-Já estou indo meu bem, já estou indo!

Virei e olhei assustado e reconheci o dono daquela voz afrescalhada. Era Marcos Augusto Souto.

O Sr. Herbert pareceu se divertir. Tirou mais 5 notas 100 e enfiou no bolso do meu paletó. E, antes que me despachasse por completocompleto pude ver por entre a fresta da porta que estava se fechando , a figura de Marcos, já sem camisa.

- Grande, garoto! - Piscou-me o Sr. Herbert, fechando por completo a porta diante de mim

Passei pela recepção e a Tina me sorriu, um sorriso amarelo, de quem sabia e fingiu não saber e até demonstrou surpresa naquele dia que lhe telefonei. Sorri e o meu sorriso não foi irônico, foi sim o meu reconhecimento que ela era um funcionária leal e assim deveria permanecer sempre, como entendendo que por mais que gostasse de mim não poderia confiar por completo.
E foi ali que percebi que ela não fazia parte do meu louco mundo.

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