segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A mangueira.


Foi ali o seu refúgio
O refugio de uma infância complicada,
tão complicada que fez da mangueira,
a amiga mais amada
Foi lá, na meninice que se valeu daqueles braços,
não os do corpo, mas de ramos fortes e resistentes
Foi trepado nela que deixou parte das suas insistências,
incompreensões e desenganos.
A árvore sabia que meninos não são adultos,
 e que são sempre confusos, mas adoram brincar,
brigar e acima de tudo; vadiar como legítimos vagabundos
Então ela permitiu que a vida, pelos os seus galhos ele conhecesse
Que não temesse, pois ali ela estava para abrigá-lo
Sim! Riram juntos das tantas vezes que ela o livrou dos vergões do cinto do pai!
Ah, menino esperto! Na primeira bufada do seu Agenor,
lá ia ele na amiga se abrigar

Foi nela, numa fase que, percebendo coisas na vida aprendeu a se excitar
Pois por mais que as folhas escondessem sua irmã,
sempre foi  possível ver ela e o namorado a se bolinar
Mas também assimilou outras coisas,
e lá do alto conheceu e presenciou as mentiras, falsidades,
viu polícia trocando tiros com marginais
E com ela também vivenciou  com algumas tragédias,
 e numa delas as chamas na favela
Que ardiam altas diante um corre-corre de tanta gente
Ah! Como aquela árvore foi boa para ele,
e dele nada ou poucos fatos escondeu
E mesmo que se agitasse os galhos furiosamente
na rudeza do tempo, sim, tinha ouvidos para ele, pois confidente
participara das suas muitas aventuras
E  nada em troca lhe pediu, apenas o ouvia, quieta, meiga e cúmplice
Apenas acolhia todos os lamentos e sentimentos que dele vertiam

E ela esteve lá numa noite escura testemunhando o amargor do primeiro amor
Foi uma paixão de criança, mas tão imensa e isenta de maldade
Mas que fizeram gotas cristalinas desaguarem no rosto do seu protegido,
as primeiras dores do amor, que, definitivamente o expulsavam da inocência
E a ferida foi tão intensa que ela sentiu o baque e estremeceu
de baixo a cima, de norte a sul
Era o medo que o seu garoto não mais necessitasse dela
Todavia, antes que a mágoa se apoderasse dela,
 antes mesmo que o menino crescesse por completo
pra nunca mais voltar ali nos seus galhos, ela chorou,
Chorou por ele, pranteou uma única e derradeira vez
A verdade que aflora quando a dor é a da separação

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