segunda-feira, 21 de julho de 2008

Relacionamentos, suas Mentiras, Verdades e Mitos.



Ele parecia infeliz. Talvez, resguardadas as devidas proporções, encontrara algum tipo de felicidade nos poucos momentos da juventude e nas raras, mas boas bebedeiras. Agora Porém agora a vida não lhe parecia grande coisa e a impressão de ser sempre o voto vencido deixavam-no com a sensação de ser como aqueles jogadores que fazem do blefe o único trunfo para a vitória, como se suas cartas tivessem que mentir para sempre. Convinha-se,  isso lhe era  pouco, portanto comum era tê-lo angustiado,  acompanhado da eterna sensação de incompetência, algo inatingível em sua vida, mesmo que soubesse os motivos; Relacionamentos.

E manter um relacionamento, para ele e em teoria correspondia sentir-se muito próximo da felicidade. Na sua mente, a relação deveria se galgar ao sucesso, inadmitida a hipótese para dois sujeitos apaixonados não se permitirem a mais cumplicidade, a solidariedade dos amantes, e esta sim o mais perfeito instrumento de convivência. Portanto, estar com uma mulher e sentir-se isento era o mea culpa, a admissão que a vida pode existir sem  finalidades e interesses de qualquer ordem. E era esse o momento vivido por ele; desilusão plena.

Apegado aos jogos de cartas, era comum comparar a sua vida à um exímio jogador de pôquer que, em poder dum avassalador Straight Flush, imagina-se o ganhador da bolada,  quando, inesperadamente, surge por entre os dedos do oponente o quase impossível Royal Straighgrandet Flush, fazendo calar a sua soberba, definitivamente. Sim, esse sujeito era um perdedor tanto quanto ele.
E isso o fazia concluir que tudo poderia ser ou estar melhor se não se envolvesse tanto, ou  mantivesse a calma e conseguisse levar seus relacionamentos em “banho Maria”. Que fosse devagar e sempre, que não deixasse subir a fervura, nunca. Mas, o simples fato de ir para a a cama com um estupendo par de pernas e uma bunda arrebitada já não fazia sua cabeça, afinal, era deprimente e tanto solitário a vagina de uma mulher servi-lhe apenas de depósito para o esperma. Não,  definitivamente isso, agora, não fazia o menor sentido.. E se fosse para compactuar com esse estado de coisas, melhor seria  alguns DVDs de sacanagem, pois também haveria a garantiria do gozo com a masturbação. Sim, ele queria muito mais, merecia mais, palavras, olhares, bocas, marcas de batom e coisas sussurradas nos ouvidos, além de mãos se embrenhadas em seus cabelos. Seria tão difícil encontrar uma mulher sensível que lhe dissesse o quanto era importante.
No seu dia-a-dia com as pessoas o mal humor d suplantava a generosidade e sorrisos, e a mesquinhez dos sentimentos espocavam por todos os cantos, um sabor ordinário de vinho barato, desses que se compram em adegas e custam o mesmo que um maço de cigarros.

Enfim, havia a premente necessidade de virar o jogo, e cobrar mais da vida, pretender a felicidade. Chegara a hora de procurar suas falhas, problemas, afinal, estivera tanto tempo ausente de relacionamentos reais que, talvez perdera o traquejo de como manejar  uma boa mulher.
E assim, munido de tudo que sua consciência avaliara, surpreendentemente resolveu procurar a sessão de classificados de um jornal e publicar um anúncio. No jornal, e antes mesmo de ser emitida a nota do serviço teve que testemunhar o olhar divertido do funcionário. E foi esse o anúncio:

                                                           -  Procura-se -

“Senhor em situação economicamente confortável procura pessoas do sexo feminino, com idade entre 40/50 anos para relacionamento estável e duradouro. Exige-se apenas que a pessoa tenha caráter. É importante lembrar que solidão não é moeda de troca, e ter na mesma cama uma mulher não significa necessariamente “não estar só”. Exijo também a autorização para a gravação de fita de vídeo onde a candidata diga com toda clareza o que espera do relacionamento, especificando suas peculiaridades e preferências pessoais. O material gravado será duplicado e cada qual manterá a sua cópia para, a qualquer momento discutirmos os eventuais desvios de rotas e que não foram contemplados na proposta inicial.

Após o anúncio saiu do jornal com a convicção que houvera feito o certo apesar do preço. Ah, que se dane o dinheiro! - Disse consigo mesmo.  Estava farto das sereias. Farto de garotas que o encantavam com melodias que seus ouvidos queriam ouvir. Não, definitivamente não! Algo seria mudado, e agora queria apenas aquilo que se constituísse nas verdades.
E assim pensando seguiu em frente e venceu quarteirões rumando à estação do metrô que lhe deixaria num bairro classe média de São Paulo. Antes de chegar do metrô percebeu um cachorro urinando num poste de esquina. Sorriu do fato, e aproximou-se do animal, e disse-lhe num tom intimista:

-Amigo, temos que ser  assim. Essa coisa de se fiar nas palavras de uma mulheres, ou mesmo, no fio do bigode, ficou lá atrás no tempo dos nossos bisavós! Hoje é necessário estar tudo documentado, pois a tecnologia, mesmo sendo louca está aí pra nos ajudar!

O cachorro, parou momentaneamente de urinar e o olhou para ele, desinteressado, e se pudesse falar ao latir, diria: Cara, você só pode ser doido! - Terminado as falas, o cão atravessou a rua abanando o rabo, de lá pra cá, deliciosamente. E o homem apenas permaneceu pensativo e, assim que perdeu o cachorro de vista continuou em frente por mais algumas quadras até se deparar com uma sofisticada loja de equipamentos eletro-eletrônicos. Alguma coisa ainda o incomodava e dizia-lhe que ainda não encontrara a solução ideal para suas questões. Então novamente se questionou - "Valfredo! Será que somente essa gravação resolverá todos os problemas? - E foi assim, sem aguardar a resposta e como um zumbi em algo que  adentrou a tecnológica loja. Ao vê-lo pelos andando pelo corredores olhando uma coisa e outra um sorridente atendente se aproximou:

-Pois não senhor! No que podemos ajudá-lo?

A pergunta veio no mesmo instante em que viu um equipamento que fez seus olhos saltarem de ansiedade. Certamente parecia um aparelho de última geração, cheio de fios, conectores, pintado com uma tinta prateada.O vendedor, experiente, percebeu o seu  interesse pelo equipamento. “Este está no papo” - Concluiu - E para impressionar ainda mais o cliente empostou a voz e esmerou nos comentários:

-Senhor, o  - TRUENOW DPT21B - é um equipamento de uma eficiência extrema, ideal para pessoas de fino trato, exigentes, e que merecem mais. Portanto fará ótimo negócio ao adquiri-lo - Disse para o cliente com uma confiança exagerada e após ter demonstrado algumas utilidades da máquina. Depois continuo com o macete do convencimento: -  Agora o que o senhor jamais imaginaria...Para ter uma ideia, ligando esses fios às laterais da cabeça é possível ser avaliado o pensamento humano  – Concluiu diante o olhar embevecido do cliente. Claro, Valfredo estava no papo! E foi assim que o vendedor levou-o gentilmente pelo braço à direção do caixa central. Valdredo, que de bobo nunca teve nada, sabia que aquele blábláblá era conversa de vendedor. Mas, fazer o que se ele ficara hipnotizado por aquela máquina?

E assim foi, sorridentes e satisfeitos, comprador e vendedor, que Valfredo deixou um cheque de valor considerável naquela loja de tecnologia de primeiro mundo.

“Será que vai funcionar?” Se perguntou ao acenar para um táxi postado ao lado de enormes caixas de grosso papelão..

Um dos "grandes" parou ao seu aceno, e o motorista um tanto contrariado ajudou-o a colocar as caixas no porta-malas que mal fechou. O taxista, mesmo sem saber o destino seguiu em frente enquanto Valfredo, no banco traseiro ainda se questionava; " Será que isso vai funcionar?" - Pensou, mas como não houve a resposta, desistiu dela. Se iria ou não funcionar ele ainda não sabia. O que Valfredo sabia era que acabara de adquirir um caríssimo e sofisticado "detector de mentiras". Então sorriu entre matreiro e ansioso, pois a estréia da máquina se daria com a primeira entrevistada, desde que, óbvio, ela concordasse com todos aqueles eletrodos em sua cabeça.

"Que venham as novas e gostosas sereias!" - Disse para si, tentando demonstrar confiança.
Algo, internamente, lhe garantia que tudo seria diferente, agora. E assim, convencido, ordenou ao pracista:

-Por favor! Rua do Triunfo!

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