quarta-feira, 8 de abril de 2009

Avô & Neto no Reino das Mucamas Escandinavas


Leve batida na porta do quarto e o menino foi autorizado a entrar. Evidente, era a saudade que falava naquele seu pós infantil. Saudades do avô, do afeto, daquele velho escritor, nada ou quase nada conhecido.
Tão logo entrou atirou-se sobre o edredom da ampla cama de casal e foi despachando:

-Vô, ontem ganhei uma sova do meu pai!

-Por que Willian? – Pergunta o velho

-Bem... Acho que foi porque o senhor não estava em casa. Ele nunca me bate quando o senhor está aqui.

-É verdade, não estava. A falta de inspiração me fez visitar a sua tia Josefa.

-Nossa vô, eu não gosto da tia Zefa!

-Ué, e não gosta por quê?

-Ah vô! Ela me trata feito criança. Odeio a sua mania de apertar minhas bochechas e os seus beijos que deixam o meu rosto todo melecado.

-É? Isso é porque você não conheceu o rosto de um noivo que a sua tia teve. O pobre do rapaz vivia com um monte lenços nos bolsos do paletó.

O menino se divertiu com a observação do avô.

-Nossa vô! Será que foi por isso que a tia Zefa não conseguiu casar?

-Não, não! Não foi por isso. É que no final das contas o rapaz se decidiu por um sujeito chamado Norberto.

-Ah. - O neto respondeu num bocejo. Provavelmente não compreendeu a complexidade daquilo

O avô, sempre carinhoso sentou-se à poltrona e batendo rapidamente a mão na coxa direita convidou o neto sentar-se em sua perna.

-Ih, vô, desculpe ta! Mas eu não to na idade de ficar sentando em colo – Justificou-se procurando por algo que não existia na cômoda de cabeceira.

O velho sorriu compreensivamente.

-Bom... Agora conte pro vovô. O porquê de o teu pai ter te batido...

O garoto desistindo da cômoda admirava por detrás da cabeça do velho um imponente quadro fixado na parede lateral. Nele, pincelado a óleo a figura simpática da avó Marieta. Foi pena ele não ter conhecido aquela senhora de sorriso tão meigo. Ele observava aqueles olhos divertidos e as rugas aos cantos dos olhos pareciam conferir a ela um ar de sabedoria. Olhou fixamente para os lábios da avó e magicamente eles ganharam vida. Ele a ouvia perfeitamente, e ela o encorajava - “Ta tudo bem Willy! Siga em frente e diga para o seu avô o motivo de ter apanhado” - 
Estimulado, esboçou um leve sorriso para a tela e não conseguia se desprender das feições dela quando respondeu ao avô sem gaguejar:

-É que ele me pegou masturbando.

O avô fixou-o por alguns instantes, perplexo. O que lhe responder? Ele sabia que não deveria tratar o neto como criança, pois aos 12 anos não era ele uma criança. Resoluto e após divagar alguns segundos achou por bem tratá-lo de forma quase adulta, porém tomando o cuidado, prevenido e  pisando em ovos para não confundir o garoto:

-Então Willy... é normal se masturbar nessa idade. E você já é quase um mocinho aos 12 anos, não é verdade?

-É vô, quase 13. Faço no próximo mês.

-Então. Isso da parte dele não foi certo. Vou ter uma conversa com meu filho -

Depois continuou. Queria falar algo que deixasse o garoto mais á vontade. Sabia que o neto estava numa idade perigosa, da curiosidade aguçada, assim nada mais natural que conversasse e tirasse dúvidas sobre alguns assuntos com as pessoas da família, e não com os moleques de rua.

-Sabe Willy... quando eu tinha a sua idade me masturbava frequentemente. Além do mais, masturbar-se com alguma regularidade evita o surgimento de acnes.

-É mesmo, vô? - Respondeu o garoto deslizando a ponta do dedo indicador pela superfície do rosto.

-Claro, claro! – O velho devolveu com um sorriso sem graça. Ainda procurava por uma definição tanto contemporânea e que melhor elucidasse sua explanação. Tão logo julgou tê-la encontrado, proferiu didático:

-Assim, Willy... funciona mais ou menos assim. Masturbar-se é como participar da tomada de tempos de um GP.  É como se estivesse ajustando o motor para a maratona da corrida, um grande prêmio. E olha, Willy... você terá em tua vida muitos e muitos “GPs”.

-Ah, saquei vô! – Exclamou Willians – Muito louco esse seu jeito de explicar.  O senhor quer dizer que se masturbar é como estivesse num treininho de F1, pisando forte, né?

-É, é isso! Exatamente isso! Você captou a essência da coisa!  – Exclamou o avô ao sorrir-lhe com dentes amarelados de nicotina. - Depois recomendou solene:

– Mas veja Willy... quando crescer procure tratar o sexo como coisa saudável e não como “uns e outros” que o têm e tratam-no de forma pervertida, devassa.

-Hum... o que é ser pervertido ou devasso, vô? – O menino não sabia o significado de tais palavras.

-Bem Willy, ser pervertido é ser perverso, mau. Devasso é um sujeito que não tem probidade moral, digo, alguém que não vê o sexo como coisa saudável, do amor.

-Ah...entendi - O menino olhava para o velho  com olhos de ternura.

Porém o que o avô não sabia era que a esperteza do garoto já vasculhara muitos sites adultos na internet. Não era bobo, portanto sabia que as acnes nada tinham a ver com a sua incontrolável vontade de se masturbar. Aliás, a sua vontade tinha apenas um motivo: Luiza, 18 ou 19 anos, filha da dona Zoraida, a vizinha. Sim, era por ela que ele se masturbava diariamente. Aquela loirinha cheia de carnes sabia mexer com seus instintos. Ela e aqueles seios grandes e coxas grossas, além  da curtíssima saia jeans.
Porém Willy achara tão divertida e interessante a comparação das suas masturbadas com os treinos de Fórmula Um, que não se viu no direito de se aborrecer com o avô, afinal, o velho ainda continuava tratando-o como criança, coisa que não era. Ao contrário, mesmo já sendo um quase  " mocinho" era humilde em admitir pra si que se havia pessoa que amava,  esse era o seu avô. E outra, com velho sentia toda a liberdade para expressar o seu carinho, como agora o faria.

-Vô, sabia que o senhor é demais? Tu és o velhinho mais maneiro desse mundo, meu bróder do coração! – Disse batendo no centro do peito enquanto o velho sorria envaidecido. Antes que o velho pudesse falar alguma cosia, continuou:

- E outra! Eu tenho certeza absoluta que o senhor jamais me daria uma sova, fosse o motivo que fosse! Não to certo, vô?

-Claro Willy, certíssimo!. Eu jamais encostaria um dedo em você – Respondeu num tom de cumplicidade enquanto os dedos da sua mão direita tremulando nos negros cabelos da franjinha do seu neto.

Willians sorri. Um sorriso prazeroso, sincero. Ali estava o único homem que verdadeiramente o compreendia. Ele a creditava até que o avô entendesse um bocado de sua alma quase adolescente quando a campainha tocou: Eram seus amigos chamando-o para o Shopping, conforme haviam combinado. E, antes que batesse em retirada tamborilando as mãos comunicou;

-Ah, vô! Esqueci de dizer que além da sova... a revista já era!

-Hã, revista? Que revista? – Questionou o velho.

-A Playboy... Aquela que estava debaixo do seu colchão, dentro duma sacola plástica.

-Sacola plástica? Que sacola plástica, menino?– Gaguejou o velho. O rubor lhe subiu às faces. Willy olhou-o divertido:

-É vô! A Playboy que tava na sua sacola com o distintivo do Palmeiras. Aquela que tem duas loironas com uns baitas peitões na capa! Mas fica tranqüilo que não contei pra ninguém, ta? Falei que tinha achado na rua.

Dito isso, Willian gira o corpo e atravessa o quarto do avô seguindo na direção da porta da sala.

O velho permanece estático sem saber o que fazer. Ele não sabia que no dia anterior o filho queimara a sua revista no quintal.  E agora ele apenas ouvia o barulho da porta se abrindo para os amigos de passeio, quando a pleno pulmão e antes que o neto ganhasse a rua, berra:

-Willians! Seu punheteiro de merda!

Como resposta ouviu uma sonora gargalhada entrecortada pelas paredes. Era o manifesto quase juvenil e nada ingênuo do pequeno sacana.
Porta batida, o Sr. Mastrelli se viu só na solidão de uma casa vazia. Espreguiçou-se e virou na direção do quadro e a falecida permanecia lá, simpática e como sempre majestosa. E ele a notava nos mínimos detalhes, principalmente àquele sorriso e a boca que parecia dizer algo – Incrível, porém algo acontecia– Em transe, firmou as vistas no quadro e abriu e fechou os olhos diversas vezes para crer no que estava ocorrendo – Não! Jamais fora doido, mas seria capaz de jurar que Marieta piscava para ele de forma insistente.

-Deus meu! Que coisa mais louca! – Exclamou para o seu delírio

Desconfiado que pudesse estar sendo alvo de alguma confusão mental, desvencilhou-se do quadro e tentando espairece sentou-se à poltrona do computador: precisava escrever algo. Ligando o PC surgiu a exuberante imagem de um lago cercado por frondosas árvores, era a sua tela inicial registrando algo tão bucólico que inspirava nele um sentimento de plenitude e paz. E isso de certa forma foi relaxante. Espreguiçou-se novamente e estalou os dedos para iniciar os trabalhos no Word.

-Psiu! – Ouviu num sussurro e atrás de si.

Virou-se rapidamente e não havia ninguém. Pensou por alguns instantes e supôs que houvesse confundido o chamamento com um barulho qualquer. Voltando para o computador pensou no título do seu novo conto.  Depois de alguns minutos sorriu ao digitá-lo suavemente no teclado - AVÔ & NETO NOS REINO DAS MUCAMAS ESCANDINAVAS – Título providenciado se pôs a escrever. As idéias vinham fáceis, fartas, quando foi interrompido.

-Psiu! – Novamente o sussurro o arrancava de sua concentração. Girou, olhou e nada! Manteve-se atento, aguçou os ouvidos procurando o lugar de onde viria o som. Nada! Silêncio absoluto.

-Ok, Jesus! O Senhor venceu! Eu me arrependo pela revista – Confessou-se num “mea culpa” estendendo as mãos para os céus. Ele nem sabia dos motivos, mas algo o levou a agir assim naquele instante.

Perdão solicitado voltou-se para o teclado. Certamente aquela conversa com o neto estava rendendo uma boa estória. Bateu as solas dos sapatos no piso para melhor sentir as pernas e meneando o pescoço começou a digitou a primeira frase da folha dois –“Vô, ontem tomei uma sova do meu pai”–
O som dos dedos no teclado foi outra vez interrompido.

-Safado!

Virou-se imediatamente – Inacreditável, procurou por toda a casa e não havia qualquer pessoa nas dependências. Retornando da vistoria, instintivamente fixou-se no quadro e na figura da falecida. Novamente constatava cada detalhe da tela. Era confortador revisitar aqueles olhos que pareciam  menina, aquele sorriso maduro que numa boca carnuda lhe dera tantos prazeres e amor.

-Ai minha velha! Será que é a inexorável insanidade? Ouço vozes que não existem – Resmungou com com o quadro.

Talvez estivesse se tornando gagá, esclerosado, sabe-se lá mais o que, mas tendo que aproveitar a fertilidade das idéias novamente encaixou as pernas na rack e em seguida deu a tradicional tremidinha nos dedos para registrar a nova frase – “É verdade Walber. Eu não estava em casa, porém a falta de inspiração me fez visitar a sua tia Joana” -


No alto da parede Marieta apenas sorria compreensiva e muda. Ela poderia continuar pregando peças no seu velho, porém a sensatez dizia que aquele não era um bom momento para confundi-lo outra vez. Ela conhecia bem o seu homem, um sujeito de feições sisudas, mas de alma generosa. Sabia que o sangue percorrido nas veias de Mastrelli, um velho imigrante italiano, era do mais puro garanhão siciliano. Sabia que mesmo naquela idade o seu vigoroso “Trelli”  tiraria de letras qualquer uma daquelas garotas siliconadas.
Lógico, sempre haveria as dinamarquesas, holandesas, suecas ou seja, lá o que for, mas sabia também que elas que jamais seriam o motivo para preocupações descabidas, pois a excitação do seu homem jamais  transbordarias às coloridas e excitantes páginas das revistas masculinas
Todas teriam sido ótimas guloseimas num passado muito distante, porém hoje não, mas sim e apenas deslumbrantes caramelos que se lambem por sobre as embalagens.


Copirraiti08Abr2009
Véio China©

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