quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Anthony e a Lua

- Papai, por que aquela estrela brilha mais que as outras? – Perguntou ao pai o pequeno Anthony, sentado nos degraus da entrada da casa, apontando o dedo para uma estrela no céu. O pai, disperso, concentrado no vazio da bela noite levou ser olhar na direção indicada e respondeu num sussurro:

-Anthony,  porque é naquela estrela que mora o nosso amor! –  O Sr. Alberto respondeu numa expressão saudosa de sua esposa, falecida ano antes, cedo demais, evidente.

A resposta comoveu o guri de 9 anos, não por estar acostumado à saudade, mas por outra vez ouvir na boca do pai palavras e frases apaixonadas. E convenhamos; Anthony não era um garoto qualquer! Não, não era, pois dono de um Q.I espetacular naquela idade tinha devorava livros de poesias e prosas, principalmente os versos de Bandeira e os contos de Machado, hábito herdado do pai e dos livros que lhe eram presentados por este, num subterfúgio a lhe satisfazer com mimos, evidente. clara tentativa de amenizar-lhe a falta materna

Repentinamente a força das palavras do pai fez a noite ganhar contornos nostálgicos, enquanto os odores desprendidos das flores no jardim eram bafejado num vento brando e perfumado, preenchendo o espaço com um cheiro de saudades

-Mas, papai, a mamãe é mais que estrela! Para mim ela é a lua. Lua como a de hoje, linda, redonda, que ilumina nosso jardim como a luz de um poste - Respondeu voltando-se para a lâmpada néon dependurada no alto do bloco de concreto cravado defronte da casa – Claro, o pequeno Anthony poetizava: conhecia as sensibilidades do pai, e sabia que ele lhe agradava comunicar-se através de simbolismos.

Foi a vez do Sr. Alberto se tornar reflexivo; o garoto sempre lhe surpreendia com alguma tirada. Após divagar por alguns segundos respondeu da forma que entendeu ser alcançado pelo discernimento de garoto:

- Filho, a mamãe jamais poderia se tornar a lua. Se assim fosse, nem sempre ela seria Lua Cheia como a de hoje. Haveria dias que ela se tornaria rasa, minguante, negra e entristecida – Argüiu, dando a entender ao menino que existiam fases não tão magnânima como aquela.

- isso não me importa, papai. Mesmo assim gostop de pensar que a mamãe é Lua! – Respondeu veemente, repentinamente divorciado da ternura da voz

E sem que houvesse tempo do surpreso Sr. Alberto saber-lhes os por ques, Anthony, continuou:

-É desse jeito que gosto de imaginar a mamãe! Lua cheia, redonda, com um brilho de ferir os olhos, como muitas vezes eu vi. Também lua, vazia, oca, sem sorrisos, e com lágrimas nos olhos, como igualmente eu vi. Sabe papai, não faz tanto tempo que a mamãe morreu pra me fazer esquecer que foi assim que ela viveu com a gente -

O perspicaz Anthony se referia à doença da mãe e ao fato de tê-la vivido ainda bela, isenta do câncer e das tristezas. Lembrou que um, pouco antes dela se ir, ele se abateu ao perceber o seu lento definhamento como o ocaso, se minguando como uma lua que peerde o viço, o explnedor. Jamais ousaria a esquecer aquele estado de coisas que o afastou do calor das mãos femininas e delicadas, do amor das palavras maternas e da paz que ela lhe trazia. No fim, foram apenas gemidos e doses altas de morfina.
Apenas dor lancinante que doía em todos, tão intensa, gradativa, insuportável. Uma dor que doeu mais que devia e que um dia a transformou em lua. Lua cheia, lua nova, minguante, crescente, qualquer uma, desde que apenas lua.

Terminado, pai e filho se entreolharam calados, ali, sentados na escada da varanda. No firmamento límpido e isento de nuvens os astros cintilavam como chamas de isqueiros em noites de futebol. A noite persistia clara e melancólica, e os perfumes das flores sem se darem por vencidos impregnavam a existência.
Pela primeira vez o Sr. Alberto olhou para a lua de uma forma estranha, diferente, como se tentando vislumbrar a figura da esposa, ali.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

As aventuras do pequeno Casanova

- Ô manhê, será que o pai está ceando a essa hora?

Eunice nada respondeu - estava cansada de ouvir essa e outras questões do pequeno Oscar – Sozinha, separada há mais de 3 anos, de quebra ficara com o ofício de criar e bancar o sustento das infindáveis traquinagens daquele pirralho de quase 9 anos de idade –

-Então manhê, como eu estava dizendo, o professor falou que cear é comer na hora da janta. Se for assim, será que o pai está ceando agora?

-Oscar, pare com isso! Há coisas melhores pra se pensar! – Respondeu-lhe sensivelmente irritada, jogando um dos braços ao léu.

Enfim, tudo resumira nisso: Um ex-marido em algum lugar distante, despedido há um bom tempo do emprego, incapaz sequer de ser localizado para dar ciência à notificação das pensões em atraso -
Melhor traduzindo: Um cara que desaparecera do mapa na companhia de uma reles vigarista que na ocasião lhe telefonava insistente e anônima: “ Sabia que teu marido é um grande sacana?” – Costumava-lhe dizer a voz anônima do outro lado da linha.

-Deixe de bobagens mulher! Deve ser uma dessas desocupadas que nada tem pra fazer a não ser torrar a paciência dos outros! – Defendia-se exaltado diante dos insistentes questionamentos da esposa.

- E mesmo assim, mesmo sob ao mais variada gama de pretextos ele se foi numa sexta feira de lua cheia -

Naquele dia Eunice estranhara o fato de ao chegar do serviço e encontrar Oscar em frente ao portão brincando com a garotada.
Ao entrar em casa não deparou com o marido, com a mesa posta e nem com a secção de roupas masculina na parte do guarda-roupas que cabia a ele – As calças, camisas sociais, as gravatas grená e até mesmo o pó anti-séptico para os pés haviam evaporado – Simplesmente ele a abandonara em meio ao móvel semi desocupado e com as despesas a serem satisfeitas - Como era de se esperar, Marco Aurélio a substituíra pela rouca voz das ligações -

E indo, deixou-lhes mais mais responsabilidades que o limitado salário da esposa conseguiria pagar: o aluguel de todo santo dia 10, contas de água, telefone, luz, de remédios, e pra finalizar: as inadiáveis compras de supermercado.

A insofismável verdade é que, depois que Marco se foi ficou mais difícil lidar com todas aquelas questões; quantas vezes ela se submetera ao serão na fábrica pra poder minimizar a situação? Muitas! - Estavam lá as horas extras, rotineiramente pagas de forma indevida, mas que, testemunhadas em holerites não a deixavam mentir

-Eunice, necessitamos mais que dobrar a produção – Sistematicamente comunicava-lhe o seu gerente nas épocas em que o Natal se aproximava.
E o tom de voz imposto, mais que notificação, soava para ela como sentença: Ou consiga, ou rua!

Ela, medrosa, porém responsável encarregada da linha de produção de uma fábrica de confecções femininas fazia das tripas e coração para extrair de si e das outras funcionárias algo quase que sobrenatural para cumprir as metas impostas, nem que pra isso fosse necessário largar o serviço as 10 da noite – E invariavelmente esse se tornou o horário padrão nos três últimos anos, principalmente entre setembro e dezembro, quando produzir era mais questão de vida que de morte –

Era nisso que pensava quando mais uma vez deixou de responder a crucial dúvida do filhote. E Oscar, após a recusa da mãe em dirimir o assunto permaneceu quieto, olhos grudados no televisor e nos comerciais do intervalo de “Jurassic Park”, o filme ao qual assistia. Porém, era impossível ele permanecer calado.

-Manhê, será que o pai vem ver a gente no Natal desse ano? – Insistiu, antes que o filme recomeçasse. Evidente, a pergunta fora incentivada pelo apelo publicitário que na TV dava ênfase às compras de fim de ano – Será que ele vai me trazer o Play Station II? – Interrogava a mãe com a expressão de dúvida.

-Oscar, pelo amor de Deus, dá um tempo! Todo ano tem que ser essa mesma ladainha? Quantas vezes te falei que o melhor é esquecer o pulha do teu pai existe? – Ele não trará nada para você. Ele não quer saber de presentes, de Natal , de você, de mim! – Respondeu-lhe sofregamente tentando ajeitar os adornos em desalinhos na estante da sala.

-Pulha, pulha? Que é isso quer dizer manhê? – Oscar era invencível - Ele simplesmente amava saber os significados das palavras -

Dona Eunice diante tantos desvarios do menino fitou-o como se ele pudesse ter alguma responsabilidade naquilo tudo:

- Ser um pulha é ser um, um, um sujeito desprezí....Ah, que perda de tempo ficar explicando essas coisas pra voce!! Ralhou com voz ligeiramente trêmula, a ansiedade se apoderando da laringe, formando algo como uma bola incômoda, coisa que ela teve que voltar a engolir pra não se ver exaurida na convulsão do choro.

-E o que quer dizer esse negócio de desprezí ? – Em menos de um minuto a mãe lhe dissera duas palavras que jamais ele ouvira dos professores ou dos amigos. Aquilo porém, foi demais para ela:

- DESPREZÍVEL é ser um tremendo FILHO DA PUTA! – Bramiu uma dona Eunice descontrolada, enfatizando sobremaneira os xingamentos – A raiva expluída, expondo as vísceras de um ser humano com problemas fez que seus lindos e negros olhos reluzissem às inevitáveis lágrimas que despencaram tão rápidas e vertiginosas como numa cachoeira – Finalmente o ser de carne e osso sucumbia à revolta, ao enrijamento dos músculos, à todas possibilidades, enfim, às feridas contidas em sua alma.

Oscar, assustado arregalou os olhos ao notar-lhe o destempero, e tão rápido quanto pôde abandonou a tela da TV e os carnívoros Tiranossauros-Rex, correu em sua direção, aninhando-se junto a ela – Carinhoso ele deslizou as mãos de unhas sujas sobre as faces encharcadas para depois delicadamente afagar-lhe os cabelos com as mãos ainda úmidas.

-Manhê, pare de chorar, por favor. – Sussurrou-lhe - Não se preocupe mais, ta? Sabe, quando olhei praquela velhota de tetas de melão e de rabo empinado, eu não confiei nenhum pouco nela! Será que ela imaginou que poderia enganar a gente? Será que não notou que a senhora sacou que ela era puta? – Continuou a sussurrar-lhe como lhe confidenciasse algo, como se aquilo pudesse trazer algum conforto à mãe.

Obviamente, sabem-se lá os motivos, mas, Oscar se referia à índole de dona Mercedez, genitora de seu pai, portanto sua avó, : Ele a vira uma única vez, vinda não se sabe daonde, por ocasião do seu mais recente aniversário . E a vendo ele jamais a esqueceria, como também a todas sensações que aquela bela mulher de traços mexicanos lhe provocara - A aparência da “quarentona” mantinha-se viva dentro da sua mente. Seria capaz de com os dedos voltear a vulgaridade da sua boca ou descorar-lhe o tingimento dos lábios carmim . Jamais poderia fazer que nao viu a pesada maquiagem a lhe colorir os olhos num tom lilás, que não sentiu o perfume denso e nauseante, muito menos que se esqueceu dos beijos molhados que ela lhes dera e que lambuzaram suas bochechas.
Ah! Como ele gostaria de poder apagar da memória o registro que ela deixara. Como se alegraria ter uma borracha que apagasse gente, que suprimisse o contorno magnífico e libidinoso das suas coxas. Pernas que ele não se esquece, mas que lhes fizeram saltar o coração quando as viu adornadas por uma calcinha negra e transparente, através do furtivo buraco da fechadura, numa hora que ela necessitou ir ao toalete.

Como poderia ser tão insensata aquela mulher? – Como poderia caber dentro de si tanto desejo por aqueles seios fartos e expostos para quem quisesse ver?
Protuberâncias que mais lhes pareciam carne de primeira dependuradas em ganchos num açougue de terceira. Seios dos quais não conseguira se desviar, que imploravam, clamavam por liberdade, por vida própria, que esperavam o milagre de sentirem-se ejetados para o mundo através da fenda do decote generoso. E essas coisas me mexeram com seu imaginário, mas não o envergonhavam, porém eram assuntos proibidos, secretos e dos quais jamais falaria com sua mãe –
E assim, simplesmente com linhas retas, isentas de curvas e de cantos desenhava-se futuro do menino Oscar.

Futuro que poderia prever-lhe enormes dificuldades com o vernáculo dos professores, com a total compreensão dos motivos e da revolta da mãe, ou mesmo a insensibilidade de apreciar a beleza na pétala de uma flor. Porém, jamais haveria a possibilidade de impedir que ele enxergasse ao longe, que não sentisse as sensações da carne, que não entendesse vocábulário das vozes dos esgotos, ou a rude sabedoria dos pecaminosos meninos de rua –

Dona Eunice ao ouvir-lhe a confidência estancou-se surpresa e incrédula diante de tais conclusões, apesar das lágrimas ainda persistirem, agora mais reluzentes que contas de cristais.
O peito arfava e a veia em seu pescoço latejava ritmada como se martelasse um prego em madeira de lei. A feição antes tensa foi perdendo a rigidez quando eclodiu a gargalhada; espalhafatosa, inusual, e que seu pranto foi incapaz de conter.

-Por Deus, Oscar! Você é demente igual ao seu pai! – Exclamou alto e continuou a gargalhar. Ele sorriu tímido e sem nada entender. Ele pensou em perguntar-lhe o que seria "demente" mas algo dentro de si dizia que aquela não era a melhor hora para voltar questionar a mãe.

O riso encharcado emoldurava partes do bonito rosto de dona Eunice, quando, olhando atentamente para o seu guri, certificou-se: Seria necessário trabalhar mais, ganhar mais, encontrar talvez um homem respeitoso e uma escola descente a quem pudesse confiar a educação do filho.
Mais que nunca e sem muito saber, pressentia que se fazia necessário distraí-lo, subtraí-lo das ruas, dos becos escusos e das calçadas de marfim.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Hey, Joe! ( Carta a um amigo )



Joe.

Ultimamente tenho convivido com obsessiva dona dos meus anseios: a morte. Isso, como é de se esperar, preocupa-me sobremaneira, afinal, tenho dedicado mais tempo a ela que aos meus CDs de rock.

Por vezes penso estar morrendo num deserto como aquele entre o Arizona e Sonora, coisa ao estilo terceiro mundista, concordo–
Nessas introspecções a idéia de tombar como um bravo me fascina; a adaga fincada no peito e  na extremidade  uma dessas bandeirolas que se estacam em touro, enquanto as tripas à deriva  emolduram minha  feição decepcionada que se esvai diante a torridez de um sol às duas da tarde.
Daí a vertigem e um gargalhar ao longe daquele que supus que me levaria ao sonho americano .
Derrotado, sinto-me  vilipendiado dos sentidos enquanto um festival de imagens ocorre nos findos momentos de lucidez. Não há extrema-unção, apenas o sangue esvaindo pela cavidade abdominal, tingindo de escarlate a minha alva camiseta do Pink Floyd. Os olhos embassam e o corpo freme e eu me lembro da esperança e dos  5.000 dólares, motivos maiores por me encontrar ali. No canto de um dos olhos percebo o andar apressado do sujeito ao encontro da mochila que mantém amparadas  as notas de Tio Sam. Incautas, elas ainda não sabem do seu novo dono

Mas,  mesmo tal vislumbre não me permite morrer como herói. Aliás, é difícil morrer como herói nos dias de hoje. Transitórios e involutivos morremos pelas próprias mãos. Morremos em  dedos que  violentam teclas de computador, por olhos esbugalhados diante telas dos notebooks de 15 polegadas . Contudo,  há outras formas menos nobres de morrermos. Então então perecemos sufocados no próprio vomito, dependentes químicos,  por cachimbos que não são da paz, ludibriados pelas pílulas do amor ou por epidemia  virais - Isso mesmo, acredite Joe, também morremos fazendo amor, mesmo  que a trepada que nos infectou não tenha sido la grandes coisas. E a ciência, genitora dessa e de outras parafernálias mortais, num “mea culpa” se redime e nos concede como prêmio de consolação um coquetel de anti-retrovirais que estenderá  o sofrimento humano até que esse se torne inevitável  fim.
 
Talvez Joe, talvez nada disso me aconteça e eu não me vá pelo pela faca do chacal. Talvez nem mesmo por relações contaminadas ou qualquer mortal experimento de laboratório, mesmo desses  ainda não sabidos. Porém amigo, sei que vou morrer de qualquer forma. Vou morrer no vermelho como num extrato de saldo devedor. Vou morrer à mingua, exaurido pelos dedos impiedosos de alguém na multidão, talvez até mesmo  atingido por algum projétil perdido e que não tinha por mim a finalidade fatal.


Portanto, de uma forma ou outra não me haverá qualquer saída
E assim, quando o meu dia chegar talvez não saibam ao me ajeitarem no caixão que a morte veio cedo demais, e sem perguntar-me se eu havia sido feliz. Talvez ao me cobrirem com a insensibilidade do concreto não saibam do momento impróprio, e nem que eu não gostaria de estar ali naquele instante.

Pois é, Joe. Você poderá me garantir que meu derradeiro suspiro não será exalado longe da família, ou daqueles por  quem exercitei alguma paixão?
Ante tantas incertezas poderá afirmar que nõ morrerei de amor inesperado por uma beldadezinha de pernas longas e peitos descomunais. Poderá afirmar, Joe?

Certamente poderá concluir que sou pessimista, um tolo visionário que ainda rirá de tudo isso.
Mas se assim não for eu torço para que a desencarnação se dê do jeito que quero; fones de ouvido, tamborilando uma música nos pés de tênis Nike sobre o desgastado carpete do quarto. Naquele instante, quem sabe,  acometido de alguma grave insuficiência coronária  eu me sinta algo desconfortável.
E se coração for e se a  dor chegar, não quero que a morte me flagre desprevinido;  quero estar ouvindo “Stairway To Heaven” do Zeppelin.
Talvez a intensidade da dor não me ofereça quase nenhum tempo, nem mesmo o suficiente para a tentativa de um Exordil debaixo da língua.
Todavia o oposto é possível e tudo poderá se dar de forma rápida e tranqüila e sem que haja a necessidade de afrouxar o botão da camisa ou deixar de solar riffs imaginários numa Fender Stratocaster  ilusória.
E nesse momento do beijo torço para que a senhora morte permita-lhes que ao me encontrarem me peguem de olhos cerrados, lábios docemente azulados e a feição serena e de quem esteve em paz.

É isso, Joe!

Mesmo que tente me convencer do contrário, sei das formas infindas de ser dizimado além daquela de se ver apodrecido num deserto mexicano na companhia de escorpiões temperamentais ou cascáveis preguiçosas.
Sei também que você poderá estar lendo e  se divertindo nesse momento. Porém, mesmo que conclua que não passe de desabafo dum velho desiludido e rabugento,  te pergunto: Você acredita que qualquer dessas formas deixarão de fazer algm  sentido?
Não, Joe! Não deixarão!
Morreremos velhos, jovens, ou,  ínfimos como os dos grãos do café.
Morreremos transbordados de fé, ou na falta total das crenças.
Morreremos embalados em imagens sacras ou blasfemando impropérios
Morreremos atrelados à complexidade de nossas questões existenciais.
Ou, Joe, simplesmente  morreremos ante a impossibilidade de encontrar qualquer outra razão para continuarmos vivendo –

Enfim, Joe.
Sei que minha juventude se foi. Prostrou-se perceptível diante a mais inglória das batalhas:;O tempo. Contudo, mesmo velho não abro mão de continuar persistindo  e nem de estar sentado na primeira fila aplaudindo o show de alguns jovens bem mais jovens do que eu.
Sabe Joe, independente destes vincos acentuados  há muito em meu rosto,  gostaria de morrer jovem,  eternamente jovem – Forever Young! -  Lembra-se da canção? -
Claro! Utopia risível e inalcançável, eu sei.  Talvez mais um dos loucos devaneios meus.

Pode ser que neste instante ao escrever essa eu  esteja impactado pela canção que ouço agora; É com Freddie Mercury -   “The Show Must Go On” -  Você deve conhecer.
Talvez não seja nada mais, nada mesnos do que isso, Joe!
E que apesar de  agradecer por tudo que esta vida me deu, sei que ela é intransigente e não me dará o tempo que acho que necessito.

 Um grande abraço, meu amigo.

Copirraiti 2009 Out
Véio China©