terça-feira, 24 de novembro de 2009

A abdução do China



Pulei da cama 7h. Maldito vício! Precisava do primeiro cigarro do dia.

A caminho da padaria que ficava a duas quadras da pensão onde eu morava, avistei um corpo alojado sob folhas de um jornal velho e a marquise de um prédio antigo. Passei olhando e pasmei ao ver que se tratava de meu amigo China. Aproximei-me, tocando-lhe o ombro de leve. Nada. Mais um toque. Nada ainda. Dei uma sacudida e ele abriu os olhos lentamente.
- O que ouve Véio?
- Hã?!

Estava totalmente fora do ar, percebi. Disse-lhe que me esperasse uns minutos, que eu voltaria em seguida. Fui à padaria, comprei os cigarros e retornei.
Convidei-o a ir até meu quartinho na pensão, tomar um banho, um café, recobrar-se do que me parecia ter sido um porre homérico. Por baixo das folhas de jornal ele estava completamente nu! Tirei minha camisa e a enrolei em sua cintura. Por mais que eu fosse desprovido de preconceitos, não ficaria bem andar com o Véio pelo bairro com a bunda e os badalos de fora.

Ele não dizia coisa com coisa. Estava visivelmente confuso. Já na pensão, tomou um banho demorado enquanto eu preparei um café reforçado.


Depois de quase uma hora, ele parecia estar se recuperando bem.

- Que pifão, heim, Véio?!

- Amigo, tu não tens idéia... Se eu te disser que tomei duas long necks apenas tu vais dizer que é mentira. Mas a verdade é que eu tive uma experiência alucinante com uma extraterrestre na noite de ontem.

- Como?
Ele passou a relatar a história mais fantástica que eu já ouvi. Se não se tratasse do China, que eu sabia, não era de inventar, diria que aquilo era a maior mentira que alguém já havia me contado. Ele relatou o fato:
“Depois que eu peguei a segunda long neck no postinho, saí para dar uma caminhada, assim, sem rumo mesmo. Parei diante de um prédio antigo, onde havia uma pensão de quinta. Uma estranha sensação me fez relaxar, ficar muito leve, feito uma pluma. Incrivelmente senti como se meu corpo levitasse ali mesmo na rua. Senti que subia até uma janela iluminada no quinto andar daquele prédio, por onde entrei. No quarto, uma linda mulher de pele muito clara, quase em tom prateado, cabelos muito negros e longos, curvas sinuosas, sentada sobre a cama, chamava-me para junto dela. Quando parei de levitar, à frente da mulher, percebi que já estava nu. Ela também estava. Ficou olhando fixamente em meus olhos e seus mamilos começaram a se esticar, até virarem uma espécie de tentáculos. Coisa incrível demais.
Os tentáculos subiram até meus ouvidos e penetraram, causando-me uma sensação muito louca, um prazer intenso que imediatamente me provocou a ereção mais rija que eu já tive na vida. Ela abaixou-se lentamente e colocou uma axila sobre meu pau e fez força, levemente, até que eu a penetrasse – imagine – embaixo do braço! Assim, ficou fazendo movimentos lentos, indo e vindo, sempre com os mamilos tentáculos em meus ouvidos, até que não agüentei e gozei no sovaco da criatura. Sem tirar os tentáculos, ofereceu-me a outra axila e novamente penetração, um vai-e-vem delicioso e novo gozo. O mesmo fez com os joelhos, primeiro um depois o outro. Ela possuía cavidades úmidas, apertadinhas, muito gostosas nesses lugares. Gozei nas quatro enfiadas. Depois disso, ainda fez o boquete mais delicioso que já tive na vida e, quando gozei pela quinta vez, ela engoliu tudinho e mudou de cor, ficando levemente azulada. Soltou um som estridente, muito agudo, que me doeu os tímpanos. Foi só então que tirou os mamilos de meus ouvidos. Novamente tive aquela sensação de relaxamento e creio ter adormecido. Só dei por mim hoje pela manhã, embaixo do teu chuveiro”.

Ouvi a tudo, sem interromper. Tinha sido a história mais fantástica que já ouvi na vida. Convidei-o para que fôssemos até o local da abdução, para vermos se a criatura ainda estava lá, para tentarmos entender o que de fato havia acontecido. Mas o Véio disse que preferia ir para casa dormir. Até porque, ele não lembrava o exato local da pensão...


Depois deste dia, muitas e muitas vezes perambulei pelas ruas do bairro, esperando que pudesse ter a mesma sorte do China. Quase sempre encontrava o Véio perambulando por ali também. Conversávamos banalidades por alguns minutos e seguíamos adiante, cada um o seu rumo.


***Esse continho foi uma homenagem de um garoto que apareceu na comunidade do Bar do Escritor, lá no Orkut. Diz que se inspirou numa prosa minha para escrever-me essa homenagem. Claro, me deixou vaidoso. E o melhor, o garoto sabe escrever, e bem!
Obrigado, Fausto J.

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