sexta-feira, 2 de abril de 2010

A empregada


-Seu China?

-Sim, pois não, Noêmia!

-Ah...é que preciso de um aumento..

-Como? - Engasguei

-Eu disse, preciso de um aumento. Um aumento substancial, seu China! - Ela rebate sem despregar os olhos de mim

-Sub o que? – Pergunto incrédulo

-Substancial, seu China! Vou repetir; Um aumento substancial ! –  Sim! Foi o que Noêmia exclamou a bordo daqueles esplendorosos olhos quase negros que,  por volta do ½ dia sempre cintilaram castanhos. Isso foi à coisa de seis meses

E ainda lembro que, após a reivindicação, olhou-me algo enviesado enquanto abandonava o meu quarto ajeitando sua saia nos quadris,  balançando a bunda carnuda e bem feita, mas em fim de fase balzaciana. Mais uma vez o China era pego de sopetão, ali, sentado aos pés da cama observando suas meias  ¾, na cor branca, escondendo o constrangimento de algumas veias azuladas.

Quanto ao pedido de Noêmia, ele se dava no decorrer do seu segundo mês de trabalho.
Recordo que o pedido me deixou macambúzio por alguns dias. À época pensei; Qual será o próximo passo? Executar-me por exploração sexual?  Me ferrar diante dum juiz?  Justo eu a tomar um xeque mate dum par de coxas bem torneadas?

Recordo também que, não lhe dei a resposta de pronto, e ela rumou para a cozinha e ficou batendo panelas,  propositadamente. Naquele instante pensei muito e me questionei se  aquele não fosse o melhor momento para desistir das minhas comodidades, reconsiderar a possibilidade de voltar a arrumar os meus lençóis, desengordurar as louças na pia, ou mesmo,  providenciar a faxina pesada no banheiro e na cozinha.
Recordo também que me livrei desses pensamentos, pois talvez nem devesse me preocupar aquilo,  mas sim deixar tudo empilhado pelos cantos, esquecendo-me dos odiosos trabalhos domésticos para dedicar-me aos meus DVDs de faroeste, e sair de espairecer, tomar um ar, desafiar os velhotes do bairro no jogos de damas, ali, naqueles concretados bancos do parque municipal.

Claro, sei que a casa ficaria uma balbúrdia como se a bomba atômica tivesse explodido dentro dela, afinal, são raríssimos os homens que conseguem dar cabo das tarefas domésticas. Entretanto,  tudo para mim poderia ser mais fácil, mas, teimoso, sempre houve comigo a questão das mulheres e dos relacionamentos.
E afirmo porque as mulheres sempre redundaram  em exercícios de expectativa, pois com elas tudo se torna improvável, já que apresentam resultados conflitantes para uma mesma equação. Sim, elas queimam rápido, imprevisíveis, e talvez suas convicções durem apenas o tempo do acender e apagar o cigarro. 

Entretanto sei que reclamamos apenas da boca para fora, pois nós os homens fazemos das nossas e não somos diferentes. Se pudesse comparar, diria que somos os isqueiros triscados que se acendem nas misteriosas esquinas do mundo. Somos imprecisos e insípidos  como as chamas que neles bocejam. E mais; somos idênticos as fumaças de cigarro que,  abandonam as bocas para serpentearem e dissiparem na atmosfera sem que a humanidade se dê pelo desaparecimento.
Sim, e não há porque mentir; somos tão imprecisos e incalculáveis como a linha do horizonte, pois nela não há ponto de partida ou chegada.

Logo, vocês devem estar se perguntando: Sim, China, mas o que Noêmia tem a ver com tudo isso?
E eu lhes respondo; Nada, aliás, tudo! Pois fiz os cálculos e pedi Noêmia em casamento. Evidente... ela é uma boa mulher, e eu estou ficando velho.

Agora...ela continua entrando e saindo do meu quarto e ajeitando a saia nos quadris, mas ainda não deu resposta para o meu pedido.
Porém, o que me deixa danado da vida,  é que ela está sempre me questionando o aumento.

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