terça-feira, 2 de novembro de 2010

Asas de Vidro

Das encruzilhadas se faz o meu caminho.
Porém, as pernas pesam, os passos não andam e a visão se turva impendindo-me de saber onde estou. O destino me observa impassível e parece zombar de alguém que não sabe da sua estrada.  Sem opões  fito à minha direita e volto o olhar à esquerda; Aonde eu poderia ir?
Na dúvida  desisto das outras direções e olho em frente para uma reta que jamais se funde ao horizonte.

E os descaminhos me remetem ao pequeno pardal que num dia de tempestade de outono bateu as asas na minha vidraça. Não havia guarida para ele, somente concreto, esquadrias e vidros. Por instantes ele me olhou e no lugar dos mirrados olhos só havia um rastro de pavor,  frio, e um medo tão humano que tive vontade de abrir a janela  e convidá-lo para algumas migalhas de pão e restos de um bolo de chocolate.
Todavia resisti à minha  insanidade e não lhe abri a vidraça deixando-o à própria sorte

Obstinado,  as suas asas batiam  com mais vigor no vidro e isso pareceu ferí-lo. Novamente os diminutos olhos me fitaram, desta vez perplexos e ungidos de dor: Eles me questionavam os motivos que me fazia renegá-lo de forma tão desumana.
E assim, no meu silêncio e na falta de minhas atitudes ele desistiu e atravessou a tempestade  para um futuro que nem ele e nem eu sabíamos.

E são essas lembranças que neste momento insistem em não me abandonar enquanto o destino persiste a observar-me impassível. Olhando para a reta que não tem fim eu tento vislumbrar a luz de outros  caminhos; não consigo. E mesmo que conseguisse minhas pernas estacaram no concreto e não há um passo sequer. Sorrisos de derrota  espocam em meu rosto impregnado-me os lábios. Há neles algo de impotência e  irônico escarnecimento; A obsessão do destino  tomou-me de arrebato  transformando-me  numa redoma de cristal.

E é na frieza do vidro que expurgo e me limito refém da própria sina:
A de relembrar mortificado o magoado olhar daquele inofensivo pardal.

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