domingo, 29 de maio de 2011

Os ventos da PLaza de Mayo

Ventos vindos da Plaza de Mayo uivavam gélidos e tormentosos.
Batiam nas janelas, quebravam vidraças, avassalando o que encontravam pela frente, levando de si o seu amor, maior que ele

Ainda recorda-se do indecente sorriso dela, dos seus lábios carnudos e do admirável sarcasmo:

- Hasta la vista, baby! -

Ela disse num sorriso maldito e desdenhoso ao ajeitar as suas roupas (na maioria de, striper) no banco traseiro de um carro de aluguel. Ele, olhava a impassividade do motorista que em nada ajudava enquanto o vento levntava seu vestido rodado, ameaçando e fazer decolar o chapéu no mais puro estilo “Rita Hayworth” .

Dentro, na sala, pousados em cima do tampo de um pequeno bar, dois copos de uísque tomados até à exaustão jaziam nostálgicos. Num canto oposto a melancolia dum rádio vitrola,solitário:

El día que me quieras
la rosa que engalana,
se vestirá de fiesta
con su mejor color.

Cantava Carlos Gardel.
De duas, uma; ou ele sobrevivia a Junho, ou a trazia de volta, humilhado como na vez anterior. Foi um momento de indecisão, difícil para ele, até que sua voz desprendeu-se do nó que se dera na garganta:

- Adios! Hija de puta! ¡Me habían matado ya otras veces!
¡Pero restablezco siempre!

Dessa vez ele não deu dinheiro ao motorista.
Ao partir, ela voltou o olhar pelo vidro traseiro e o percebeu cada vezes mais diminuto à medida que o automóvel ganhava novos espaços. Houve tempo ainda de vê-lo retornando para dentro da casa.

Seria uma longa noite de tangos, bebedeira, e de todos os esquecimentos.


Copirraiti 26Mai2011
Véio China©

http://letras.terra.com.br/carlos-gardel/15882/

domingo, 22 de maio de 2011

O Olhar de Marcela

O telefone tocou naquele fim de manhã de domingo. De inusitado naquele dia só um rato que me desafiou na porta da entrada de casa. Tentei alcançá-lo com a ponta do tênis do pé direito, em vão, ele escapou e eu fiquei com um baita trauma na perna ao acertar em cheio o primeiro degrau da escada, em concreto puro.

-Bom dia Véim! Domingo Azulado pra ti. Um Beijo! – Era a Marcela, ou, Tchela, como eu gostava de chamá-la, talvez por ser eu oriundi de italianos.

Eu a conhecera na fila do supermercado. Ela me olhava atentamente e eu me perguntava o que ela poderia estar achando de interessante ou hilário em mim. Isso foi até ao ponto dela desinibir e vir questionar-me se eu seria o Eulenardo, o criador do Velho Zina, um nada famoso personagem publicado em meu livro único. Provavelmente ela deve ter me reconhecido pela foto da contracapa do best seller fracassado. Claro, adorei ouvir aquela voz um tanto teatral e juvenil apesar dela estar, talvez, pela casa dos 30.

- Bom dia também, Tchelinha! Que esteja azul e cheio ondas calmas! Beijos pra ti, meu amor!

-Mar calmo? Nãooooo! Estou cansada de calmaria e de coristina R. To numa gripe danada!

- Bem... tem o Camaleão..lembra-se? - Brinquei

O Camaleão era uma casa de shows onde se tocava rock pesado e as pessoas ficavam enlouquecidas e gingavam seus corpos na pista de dança. E segundo ela, la seria comum encontrarmos bêbados, drogados, gays, lésbicas e os cambaus A4.  Fora ela mesma que me falara do lugar no dia que nos conhecemos.

- Ô se Lembro! Massa!  Espero ficar boa logo. Assim poderei sair com o véim e dar boas risadas.

Pronto, mais uma vez o personagem interferia na minha intimidade. Desde o primeiro dia ela me tratava por “Véim” Tanto faria se meu nome fosse Justus, Cassandro ou Teófilo. Pra ela eu seria sempre o “Véim" – Eu mal chegara a essa conclusão quando ela veio com outra, evidente, sobre o safado:

-Sabe, essa noite sonhei com ele, acredita? Acho que conversamos tanto sobre ele, acabei sonhando. Nada de importante... ele surgiu no nada – Concluiu com uma voz bonita, mas um tanto desalentada por aquilo ser apenas um sonho. Era assombroso como ele podia ser tão real para ela.

- Bem... Poderíamos levar o Véio num show de rock pesado, preferência heavy metal. Seria engraçado vê-lo com as mãos na cabeça, intimando o diabo,  achando que o mundo estaria acabando – Devolvi num riso tanto irônico. Claro! Eu pagaria os tubos pra colocar o velho numa saia justa dessa, não duvidem.

-Hahahhaha... Que figuraça é o Véim! Imaginando ele curtindo, batendo os pés, o corpanzil desconjuntado, balangando a cabeça insanamente e mandando todo mundo à pequepê! Certamente roubaria a cena e faria o show.

-Roubaria, é? Preciso dar um jeito nesse Véim decrépito! – Momentaneamente eu fora absorvido por um ciúme doentio e inexplicável.

- Que jeiiiiito? – Ela questiona assustada.

- Calma! To pensando aqui... Cicuta? Não não é platônico demais.
Overdose de Vodka? Jamais! seria matá-lo do jeito que gostaria de morrer.
Fazendo amor? Nunca! Pois sei a quem ele queria. Morte natural? Também não... demoraria mais que deveria – Retruquei um tanto entediado.

- Seu desalmado! Isso la é coisa que se deseja pra alguém? Coitadinho do véim – Ela protestou.

- Bem... estou sujeito a outras eficientes sugestões! E aí, o que me diz?

- Faz isso não... ele é um pobre coitado! Mas... posso falar uma coisa? Acho que ele viverá 100 anos. – Tchela retruca.

E Marcela falava como se houvesse nela toda a certeza desse mundo. Era como se o danado respirasse entre nós e que o visitássemos num asilo em fins de semana com os bolsos forrados de bolachas água e sal e chicletes Adams.

- O que?  Aos 100 anos? Você ta louca? A maldição pairará sobre minha vida.
Oh destino cruel! Viver à sombra dum bebum de bloodmary. Você é a décima terceira que ele me rouba! To pensando em me mudar pro oriente médio. Seria menos turbulento... acho.

-Hahaha – Marcela gargalhou daquele seu jeito único e que fazia o mundo ter algum colorido. Depois complementou - Olha... não gosto de ferir as pessoas. Vou contar uma coisa no seu ouvido Eulenardo, mas, não conta pra ele não ta? É que eu gosto mais de você do que dele. Claro!...Conheci ele primeiro... ele é uma graça de véim..mas, fazer o que?

-Ah é?!!!!!! – Poderia parecer a coisa mais imbecil desse mundo, porém aquilo me deixou feliz. Tão feliz que exclamei:
Que tenha longa vida o Véim!!!! - Eu sei, inacreditável mas, eu fiz isso. Era como se ele e eu travássemos uma guerra nas estrelas pela supremacia do universo.

-Haahhaaaa – Novamente ela gargalhou daquela forma zombeteira. Depois finalizou - Olha! só te liguei pra saber se está tudo bem contigo. Até mais véim, e um beijo no seu lindo coração

-Até mais, Tchela! Um beijão no seu também. –  Era bom saber que nossos corações eram lindos.

Marcela desligou o telefone e eu recordei aquele primeiro dia. Lembro-me do seu olhar, nostálgico e belo. Lembro-me da garota de mini saia, pernas bonitas, pintura discreta e que me olhava dum jeito como se eu fosse uma pessoa muito importante. Não, eu não era. Era apenas um escritor medíocre e que criara um personagem com o qual ela se identificara. Após pagarmos nossas compras eu a convidei para um café. Ali na mesma rua encontramos um Franz e ficamos la por quase duas hora. Tomamos alguns capuccinos e falamos um pouco de nossas vidas e muito sobre as desventuras do Véim, seu ídolo. No fim trocamos telefones e olhares. Talvez os mais de 20 anos de diferença pesassem e fizessem a diferença, pensei ao vê-la partir. Ela olhou para trás e sorriu. Um sorriso lindo, algo melancólico e de alguém que esperava que algo de bom acontecesse em sua vida.
E sorri e acenei um “até logo”, pois sabia que ainda não era o adeus.
Eu simplesmente adorava os olhares iguais ao dela.


Copirraiti 22Mai2011
Véio China®

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tchau tchau Manaus!

Lembro-me como se fosse hoje. Constantemente a libido vazava entre os dedos das minhas mãos masturbatórias. Em mim um desejo incontrolável de algo que não fosse as conversas dos garotos mais velhos que em pormenores narravam as transas imaginárias com garotas que eles jamais foderam.

Recordo ainda que foi quase bom sentir aquele calorzinho subindo e descendo pelo corpo e explodir num orgasmo. Porém eu não entendia muito bem daquelas coisas, afinal, as minhas experiências com as garotas, até então, se resumiam à uma relação quase que literária, ou, melhor, com as revistinhas de sacanagem que singelamente tratávamos por "catecismos".

E as resvistas me excitavam. Eu gostava dos desenhos pornográficos, das moças de bundas enormes, seios imensos e mamilos generosos. Gostava dos "ahhhhs, uhhhhs" grafados nas semicircunferências logo acima dos desenhos.

Portanto, crente que deveria ser assim foi que tive a minha primeira relação sexual.
O nome dela era Dulcinéia e estava na faixa dos dos 18 ou 19. Relembro que foi na casa dela, um quarto e cozinha num cortiço enorme onde outras pequenas moradias serviam de aluguel. Filha de enfermeira de período integral, Dulcinéia ficava com os dias livres, numa composição que poderíamos poetizar assim - Dulcinéia, o tempo e a solidão -

Naquela tarde, enfurnado na cama de casal onde dormia com a mãe, e sem o "quebra-gelo" aconselhável foi que partimos para o crime.
Com os catecismos avivados na memória tentei impressionar - "ahhhhh - uhhhhh" - Foi o bastante para que uma Dulcinéa preocupada abortasse a cópula.

-Cara! Para com isso! Os vizinhos.....

Para mim foi um balde de gelo, e se fatalmente com uns 50 e tantos  teria broxado. Contudo, garoto e dono de uma aparência que mais parecida 20,  prém sem ultrapassar os exuberantes 16, foi me que mantive firme e na ponta dos cascos. Todavia, fora ruim, também: O legado de minha família dizia que sexo significava amor e vice-versa,  portanto, me apaixonei.

Foi uma das fases mais doloridas da minha vida.
Eu amava Dulcinéia.
E ela apenas ria na minha cara e dava pra todo mundo.


Copirraiti mai2011
Véio China®