sábado, 20 de agosto de 2011

Entregues & Possuídos

Ao lado da cama a janela entreaberta. Nela, um pequeno e ansioso rouxinol gorjeia  sua curiosidade por aqueles inexplicáveis afagos e beijos.
Acima dos lençóis o homem misturado ao cheiro de cidade e um odor do Paco Rabanne apenas sorria para a mulher. Para eles parecia que há muito nada houvera de tão significativo. Tomavam-se de um sentimento quente, suas veias em erupção pelo movimento frenético do sangue, embevecido por algo para o qual não há antídoto, a não ser o próprio veneno adocicado que ora experimentavam.
Pela mesma fresta penetravam alguns poucos e envergonhados raios de sol, tão gélidos ante o verão que se presenciava naquele quarto.
O gosto das bocas se tornava o mesmo, os perfumes já não eram discernidos e o gorjeio do rouxinol se misturava ao leve ranger do madeiramento da cama.
Cama que abrigava muito mais que corpos à procura de prazer. Cama que guardava os segredos daqueles seres que se tocavam cálidos. Era certo; Ali não havia só a carne e os delírios que nela se enseja. Ali havia mais, muito mais; era a doçura, a cumplicidade além do desejo.
Ofegavam quando os sussurros abandonaram seus lábios e se misturaram vagantes, escoando pelas paredes do quarto. Agora, dois seres a mercê das sensações, resvalando suas bocas, sentindo sabores antes distantes, faiscando olhares, reféns absolutos dum estado de luxúria e paixão. E assim foi que se possuíram; Um inferno misturado ao infinito, rebuscando cores, deuses e diabos sucumbidos ao imensurável prazer.
La fora a vida seguia seus passos, indiferentes, sem cheiros, sem murmúrios, sem nexos, tampouco sem o líquido e o gosto daqueles que se tornam unos.
Depois disso, extasiados apenas sorriram e se beijaram; Eles sabiam que o mundo não fazia noção das chamas que aquelas paredes invejaram. Paredes que se impregnaram de um olor saído das profundezas dos seus espíritos, escoando pela tez, manifestando-se na emoção que rouba a própria razão.
Mais que isso, tinham toda a certeza que por algum tempo houve ali o fascínio e a entrega de suas almas. Almas que abraçaram corpos que se adentraram, mãos que devassas se perderam e reencontraram caminhos cúmplices que margeiam pessoas dotadas de emoção.

Copirraiti 20Ago2011
Véio China©

2 comentários:

Uma Telles disse...

Bem...sempre tenho a felicidade em ler esse cabra macho do veio china rss...e todas as vezes que o leio me fascino cada vez mais com sua sutileza, e falicidade em expressar tantas emoções, euforias...anseios...sarcasmos....Te falar viu "movimento frenético" rsss familiar rss mas a melhor frase"manifestando-se na emoção que rouba a própria razão"....Intenso......simplismente despensa comentários amplos resumindo: Intenso.

Raquel Ordones disse...

delicia de texto...beijos