segunda-feira, 11 de junho de 2012

O vácuo ( Um dos lados da solidão de uma mulher)


Acordou assustada.
Verdadeiramente não se sabe o que se passou à cabeça e nem ao corpo da mulher. Inexplicavelmente a simples lembrança da voz do homem a torturava e algo estúpido e selvagem se apossava nela. Como entender suas reações? Sabia apenas que a voz persistia e reverberava na mente e isso a deixava ardente, depois gélida, para novamente voltar a queimar. Estranho estar ali acordada do pesadelo e na mesma companhia do monstro que levara para o leito ao dormir.

Puta que pariu! – Ela murmurou –  Olhou para o lado e pensou em gritar, desistiu, não sabe se por medo ou coragem. Ao seu lado o homem dormia quieto, sereno e à espera do novo dia. Ela olhou para ele, não com desejos, mas, carinho. Como gostaria que fosse dele os pensamentos, mas não. Entrelaça os dedos e tenta extirpar a lembrança daquele outro homem que nem mesmo a tocou e do qual que só conhecia a voz.
Relembrou que o conheceu ao acaso no atendimento de uma chamada por engano, mas que a deixou impressionada. Recordou que ainda conversaram por alguns minutos e ele não se lembrando para que número discara pediu que ela reconfirmasse o número da linha. Ela reconfirmou e de lá para cá foram outras tantas ligações, à princípio repletas de palavras meigas, carinhosas,  depois outras, envoltas em insinuações de alguma  sensualidade que jamais as refutou. Recente estava em sua memória o que  ele dissera na tarde daquele mesmo dia. Obviamente que dessa feita o sinal foi avançado quando ele lhe falou num tom excitado coisas de cunho eróticos que acabaram por irromper nela os desejos. Repentinamente ela sentiu-se queimar como se fosse o paciente dum estado febril incontrolável. Surpreendiam-na  as reações pois jamais se flagrou tão viva,  acesa. E como ele a deixou acesa!
Ainda pensou em acordar o marido e discutir com ele  aquilo que pudesse estar acometendo a frieza da relaççao; quem sabe não houvesse algum jeito? Talvez conversando, discutindo de forma civilizada as coisas poderiam acomodar-se, um afago, carinho, até mesmo um beijo, que não fosse saboreado pelos seus lábios, mas que demonstrasse  nele alguma ternura.

Não, não daria certo – Concluiu - Além disso, coisas imprevisíveis aconteciam todos os dias – disse para si - Afinal,  jamais se supôs exposta a esse acontecimento.  Porém agora sabia; c essas coisas aconteciam e acometiam pessoas sem distinguir credos, raça e cor.

Sem alternativas e com um desejo instigado abandonou o leito conjugal e procurou abrigo no silêncio e na escuridão da sala. Por alguns instantes permaneceu quieta, circunspecta,  depois apurou os ouvidos; quem sabe se houvesse algum sinal de vida pelos corredores, alguém que acendesse as lâmpadas  ou que rumasse à cozinha para um copo de água ou uma xícara de café. Ah, como ela gostaria de ouvir a voz  do homem que dormia lhe perguntando num tom amável: Oi querida! Acordada numa  hora dessa? - Porém não havia voz, não havia nada. Depois acendeu a tênue luz dum abajur instalado na mesinha lateral, evitando que seus olhos acostumassem à escuridão que lhe aguçava desejos ardentes. As mãos tocavam as consistentes espumas do sofá quando deitou-se amparando as duas pernas sobre um dos braços do sofá. Agasalhava seu corpo unicamente a sensualidade dum baby-doll claro e dum tecido transparente e bem condizente ao  mormaço da noite. Relaxou os músculos e seus dedos percorriam caminhos como se acometidos de vontade própria  deslizavam pelo corpo com indicador acompanhando as linhas da calcinha - Ah, se o homem que dorme pudesse sentir o que se mantinha aceso dentro dela, o quanto era apetitosa debaixo das transparências e daquelas ínfimas peças  negras. Sim, um conjunto,  lingeries que de rendas  lhe custaram o olho da cara, mas que realçavam o moreno das pernas e o formato do par de seios firmes e fartos.

Olhou para si, para os trajes  e sentiu comiseração pelo homem e por ele não mais se lembrar ou perceber a escassa temperatura do casamento. Pena por ele nem se recordar dos galanteios necessários, mesmo que pequenos, pena até pelas preliminares dum sexo  tão automatizado como a máquina de lavar-roupas que se mantinha na área de serviço  ou como desses equipamentos de lava – rápido que se vêem nas esquinas. E era justamente nisso que pensava quando intuitivamente acariciou o tecido na parte frontal da calcinha e sentiu excitação. O dedo travesso brincava sobre a lingerie, para baixo, para cima numa libido que a umedecia. Sussurrava baixinho quando pressionou a virilha até encontrar o vão e penetrar o indicador na calcinha e acariciar os pequenos lábios vaginais. Ela se tornava chama, sentia-se fornalha ao roçar levemente o clitóris, depois com maior contudência,  produzindo um cheiro de sexo. Sôfrega gemeu quando vigorosamente penetrou-se com o dedo,  e depois no vai-e-vem dos movimentos murmurou coisas que só o desejo expressa. Com o rosto em brasas e  pensamentos tão insanos quanto a propriedade dos seus atos ela recordou-se do timbre grave do homem,e consentiu que mesmo tentando esquecê-lo, não conseguia. 
Por que ele me excitava tanto? O que há de especial nele?  - Questionou-se aflita –

Não, não compreendia todos os motivos, mas apenas se deixara levar pela excitante loucura. Aliás, compreender, compreendia, sabia dos muitos porquês, porém não era essa a hora de se entregar a eles já que a voz do homem num canto de sua consciência persistia incitando.  E foi rememorando  cada uma das palavras que ele lhe dissera que ela imprimiu velocidade maior ao dedo enquanto a sua outra mão acariciava os seios tocando firmemente os mamilos até torná-los rijos.
Agora o seu olhar estava cerrado e era como se o fogo do inferno ardesse em seus poros, na sua loucura de imaginar-se possuída pelo homem e não pelos próprios dedos. O corpo fremia em terminações nervosas, impulsos  que a faziam entregar-se à insanidadedo do suposto ato de amor. Contudo o ato solitário pedia mais, muito mais, e como se fosse mágica a  mente conseguia reproduzir a voz do homem com tanta perfeição que parecia que era ele que  sussurrava-lhe todas aquelas obscenidades e perversões.  Não havia volta no processo.

Foi então que possuída de delírios murmurou coisas incompreensívei,  sentia-se a própria prostituta, não no sentido deturpado do termo, mas de forma a imaginar-se livre, sem amarras e nem ataduras que   negassem o prazer. O corpo respondia aos estímulos dos dedos, e isso a liberava e ela retribuia com sussúrros tudo aquilo que imaginava ouvir da voz.
E foi assim de penetrações e toques que a mulher atingiu o ápice, o orgasmo, um estado de luxúria que proferia frases que ela  jamais diria na presença de um homem.Sim! Era o paraíso!

Extenuada na mente e  no corpo procurou permanecer serena  até sentir-se liberta do prazer das contrações. Refeita, permitiu relaxar-se no sofá. onde a respiração arfante guardava batimentos cardíacos acelerados, e os quais sabe o porquê: Foram momentos dum  prazer único na sua existência. Espera mais alguns instantes e suas pulsações normalizam e ela pensa nos fatos – Vácuo de sentimentos - Ela se consente na premissa enquanto sensações conflitantes  digladiam dentro de si.

E foi esse o ponto de partida para lágrimas repentinas deslizarem pelo seu rosto de mulher. Gotas que  atravessando as llinhas dos lábios morreram na extremidade do queixo. De lá e avolumadas por outras lágrimas  despencam na linha que divide os seios: Ela sente o contato, líquido, quente, doído.

Ela se levanta e a perplexidade e o choro parecem ceder naquela mulher que  se encaminha para o banheiro.
Nos corredores há a insistência de não haver qualquer sinal de vida como se fosse ali o caminho da morte.
É madrugada, persiste o calor, e todos dormem.


Copirraiti 11Jun2012
Véio China©