quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Maglok! O herói troglodita

-Mim querer dar paulada na cabeça de velho! – Exclamou  Maglok,  o herói troglodita ao adentrar abruptamente o ambiente.

Era no mínimo estranho ver aquele sujeito dos seus trinta e poucos num corpo de academia e em longos cabelos acastanhados e com um bastão de beisebol agarrado pela mão direita. Meio inusitado ainda o linguajar afoito e proferido num misto tupi guarani com algo candango. Porém o mais extraordinário era o fato de Maglok ser literato. E pasmem; ter dois livros publicados

-Que é isso  rapaz? Você vai matar o pobre velho! – Gritaram os sujeitos dentro do boteco onde o idoso bebericava tranquilamente a sua cerveja.

O velho, tanto assustado pelo vozerio e movimentação olhou para o sujeito que se postava na sua frente e que, mesmo que tolhido dos movimentos por duas ou três pessoas que o agarraram tentava desferir o golpe. Claro, ele reconhecia o rapaz, portanto acalmou os amigos de bar:

-Ah, soltem o garoto, afinal, Maglok é um cara legal! - Orientou aos amigos.

-Como legal? O sujeito quer rachar tua cabeça  e você diz que ele é um cara legal? -  Questionou Carlito, um mulato forte que segurava o rapaz com contundência.

-Ah, ele é legal sim! Ele só é meio egocêntrico, narcisista, arrogante, ditador, prepotente, insensível, exibicionista, convencido. Todavia se subtrairmos todas essas irrelevâncias constatarão que é um sujeito ótimo –  O velho disse num tom conciliador ao dar um bom gole na sua cerveja das cinco.

Claro, talvez se perguntem dos motivos. Bem, o que se soube é  que os problemas entre Maglok e o Sr. Nachi surgiram pelo fato do segundo utilizar o  troglodita como um dos personagens no último dos seus contos. Enfim, mesmo Maglok estando la tudo não passou de uma boa brincadeira, portanto nada estampado naquele conto algo que pudesse denegrir a sua imagem e moral. Porém não foi assim que Maglok entendeu os fatos e agora vinha em busca de vingança.

Bem, isso não importa, mas sim que, diante a solicitação do idoso, Maglok foi solto, exceto o bastão confiscado pelo Mané, o dono do boteco que, o guardou num compartimento abaixo do caixa registrador com o intuito de preservar as dependências físicas do estabelecimento. Livre dos braços dos amigos do Sr. Nachi, o troglodita olhava com fúria para o velho. Bem, o que fazer com aquele sujeito  intempestivo senão convidá-lo para uma loira gelada?

-Maglok, larga dessas frescuras e sente aí pra tomarmos umas brejas. Hoje é por minha conta! - Garantiu o Sr. Nachi ao piscar-lhe o olho

-Mim não quer porcaria de líquido dourado de homem branco. Mim quer dar paulada na cabeça dura de homem velho. E mim também quer de volta o bastão! Mim pagou 5000 pilas nele! Disseram pra Maglok que bastão de beisebol foi de Di Maggio, década de 60. Veio até com selo de garantia - Maglok insistiu irado.

O velho novamente se fixou no rapaz de atitude selvagem e logo percebeu que ele não estava para brincadeiras. Porém já tinha alguma experiência e gingado pra tratar com Maglok, afinal fora assim em  duas outras oportunidades. Claro, ele também saíra machucado, não fisicamente, mas no espírito.

-Mané, por favor, libere o bastão do Sr. Maglok. Sabe Mané...o bastão foi do Di Maggio e ele pagou 5000 pratas nele, e tem até selo de garantia – O velho novamente piscou o olho e pediu ao dono do bar, sendo prontamente atendido.

-Tome Maglok, tome teu bastão. A gora ande, termine o seu serviço.  É pena perder assim os meus miolos, mas...

-É pena o cacete! Maglok vai fazer picadinho de cabeça dura de homem branco velho!

-Poxa vida Maglok! Justo agora que eu ia te ajudar no Jabuti. Não sei se você sabe, mas... tenho alguma influência com esse pessoal todo...

-O que?  O velho cabeça dura falou Jabuti? – Maglok arregalou os olhos

-Sim, sim! Isso mesmo que você ouviu... o Jabuti! O seu tão sonhado premio de literatura – Confirmou o velho deixando despencar os braços numa expressão de desânimo.

-Obaaaa! Agora mim quer o Jabuti. E mim também quer bater com o bastão do Di Maggio e destroçar cabeça de velho homem branco gozador. Depois mim vai pregar na parede os pedaços da cabeça de velho estúpido junto do premio do Jabuti e mostrar pra toda família nas macarronadas de domingo. Mim quer Jabuti agora!

-Não Maglok! Calma! Não pode ser agora e muito menos é o que você entendeu. Uma coisa é uma coisa e a outra é outra coisa.  Ou cabeça de velho branco ou o Jabuti! Tem que escolher agora! E Além do mais essa parada ta no papo, e eu posso dar uma mãozinha da branca pra você. Topa?

Foi o suficiente para o bastão de Maglok pousar no ar tal qual fazia o Dario o peito de aço. Sim, o Dario, aquele jogador que flutuava no ar ao fazer os seus gols de cabeça. O velho persistindo o olhar em Maglok pode pressentir o quanto fora convincente. Maglok permanecia reflexivo diante da proposta. Por fim, pensou, pensou e se pronunciou:

-Velho branco, você acha mesmo que há alguma chance de Maglok levar o Jabuti? – Os seus olhos eram de quem ainda não acreditava em si, não colocava fé no próprio bastão, ops, digo, no próprio taco

-Claro, claro! Você tem ótimas chances, Maglok. Ainda mais agora que a tendência mundial é totalitária e ditatorial. Os ditadores estarão de volta. E veja bem, o título da tua obra é um espetáculo! Vou lê-lo calmamente para que exale o buquê da sonoridade literária. Sinta a melodia neste título: “Justiça é uma percepção dos donos do poder” – 

-Ao ouvir o título do seu último livro proferido num tom tão cerimonioso e melódico os seus olhos brilharam, encheram-se de esperanças e despejaram a bravura do seu orgulho nos quatro cantos do boteco..

-É! É bonito mesmo o título de livro de Maglok, né?

-Sim Maglok! É lindo! Uma obra de arte! – O velho respondeu num longo bocejo

-Ah, então Maglok não vai quebrar agora a cabeça dura de homem branco velho para poder esperar a chegada do premio Jabuti. Mas... se algo der errado, e se o Jabuti não estiver na parede de Maglok, eu volto e..... –  Respondeu ao Sr. Nachi num tom ameaçador, riscando o dedo indicador à frente da garganta.

Depois do assunto terminado, Maglok se apossou da cerveja  sobre a mesa e a levantando num brinde solitário virou no gargalo até a última gota. Depois  sem se despedir abandonou o bar. Ao vê-lo partir o velho levantou-se da sua cadeira e foi à porta do boteco e fincou o olhar naquela figura que se afastava lentamente pela calçada.
E olhando aquele sujeito desajeitado sentiu alguma comiseração pelo indivíduo, afinal suas atitudes  trogloditas somadas ao seu  inequívoco autoritarismo causavam asco às pessoas. Não que não houvesse contenda, brigas, egos exacerbados no trato da relação entre os escritores, mas nada que os levassem às ameaças de agressões físicas. Porém assim não acontecia na postura de Maglok, dono duma peristente teimosia que o tornava parecido com um  boneco “João Bobo” desse que é surrado pela verdade das palavras, desse que nós batemos e batemos e ele não acusa,  e então retorna para novos tabefes com os mesmo sorriso sarcástico impregnado no rosto de plástico. Não foram poucos os que zombaram dos seus atos,  decisões, do uso da sua força, além dos seus socos desferidos contra o  próprio peito num egocêntrico “Eu sou eu. Eu sou é foda” como se aquilo alimentasse eternamente a sua vaidade. Porém o que Maglok não percebia é que só ele via o  brilho e o glamour. naquilo. E a luminosidade lhe era tanta que ele continuou socando o peito num ato guerreiro, num brado de vitória. Vitória que a si mesmo brindou, porém falsa, desdenhada,  entranhada no poder das guias cibernéticas e sem o referendo dos  seus pares, nem mesmo o de um fausto amigo que constrangido se alinhou ao repúdio da maioria.

Enfim, o velho observava Maglok se distanciar ainda mais e já sabia de antemão que a vida ainda traria algumas lições de humildade para aquele garoto de trinta e pouco, e pro seu equivocado senso entre distinguir a autoridade e o autoritarismo. Contudo e apesar dos fatos o velho sabia que ele ainda não estava pronto para todas as mudanças que fatalmente viriam no tempo certo, ainda mais porque agora havia um filho. Enfim, Maglok era apenas um caso onde se descartava a intermediação de juízes, advogados e  júris, afinal a sua sentença estaria eternamente dentro de si, bastaria apenas que soubesse discernir.

Bem vindo ao mundo da realidade, companheiro!!!

Copirraiti03Out2012
Véio China©





7 comentários:

Tiago Oliveira disse...

Ótima prosa, Véio. Continua com a categoria de sempre. Forte abraço.

Anônimo disse...

A ironia é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte de zombar de alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reacção do leitor, ouvinte ou interlocutor.
Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar..E meu querido você fez isso com maestria...um dos melhores que já li ...obrigada pela leitura.Abç.Rose

Unknown disse...

Meu querido Véio,
Eu fico aqui com olinhos pregados na tela (leitura)...rs
Como sabe sou leiga, mas a sensação que tenho, a cada leitura, é de que estou dentro do conto...rs
Um abraço meu amigo.
Selma Maria

Poesia Sem Limites disse...

Boa Veio. Confesso que li meio dormindo, mas voltarei. Abraços.

Véïö Chïñä‡ disse...

Valeus Tiaguito! Grato pela opinião.

Valeus quase anônima! Claro que sempre identifico a sua forma de escrever, nem precisaria assinar! Beijão, Rose!

Valeus Selmita! Abri um sorriso aqui. Grato.

Valeus Cairão! Sempre gosto da atua opinião.

Giovani Iemini disse...

véio,
vc já se masturbou pensando em mim?
fiquei sabendo que já fizeram isso e adorei. mulheres, claro. mas se vc quiser, não farei objeção.
à vontade.
divirta-se.

vc tá mesmo precisando de algo pra mudar seu foco. quem sabe se pensar no meu corpo sarado vc não pára com esses contos ironicamente bobos.

Véïö Chïñä‡ disse...

Eita!

Quem é a garota de longas madeixas?

Giovânia?

Deve ser menina-beque da Ponte Preta ou lutadora de UFC.

Vez ou outra aparecem essas malas- babacas por aqui!

hehehehe

Eu heim!