terça-feira, 24 de setembro de 2013

Amor...aí vou eu! (4000 km para um boi de cara sonsa)

Era uma dessas noites mormacentas do verão de fevereiro, essas que fazem o suor do rosto gotejar e o lenço ser mantido no bolso traseiro da calça. A noite tinha lá os seus encantos e eu estava com amigos numa mesa de bar, aliás, na última delas. As fortes luzes do lugar apinhado de gente elevavam a temperatura, inclusive a sensação  de estar mais quente dentro que fora do bar. Eu e os camaradas continuávamos conversando e cercavam-nos  meninos e meninas bonitas, jovens que pareciam estar de bem com a vida vestidos em perfumes  importados e roupas de grife. Evidente, não era só, além das flagrâncias e visuais os  acompanhavam  os gestos espalhafatosos e vozes entusiasmadas, e eles alegravam o ambiente. Claro, o boteco nada tinha de espetacular ou sofisticado como esses que funcionam nas avenidas dos  bairros mais nobres, porém em nada se assemelhava aos milhares de pés-de-porcos espalhados pela cidade. Gosto de falar sobre o bar, pois curiosamente ali é o lugar onde retroajo no tempo, algo assim que talvez lembre o filme “De Volta para o Futuro”. Geralmente essas viagens me fazem recordar uma época distante e de algum romantismo, é verdade, mas que também me devolve muitas durezas.
Porém, hoje, quando olho para as suas acomodações deduzo que tanto o estabelecimento quanto eu fomos mais simples, ou menos complexos, assim como eram os bêbados que ali entorpeciam suas almas de aguardente barato. Agora o local foi amplamente reformado nas alvenarias, e a fachada com  tijolos aparentes e telhas coloniais emprestaram a casa um certo tom campestre, onde o  atraente letreiro em neon vermelho e letras brancas pisca o nome do "Planeta Chico"  num indiscutível estilo country.

Sim, são os novos tempos, logo, dispersando das cores do passado juntaram-se às inovações seis  modernos freezers com portas de vidro, desses que são cedidos pelas cervejarias. Claro, a brutal concorrência entre essas companhias as obriga esmerar em produtos de alta tecnologia e qualidade, assim como  no caso dos freezers, aparelhos com designer futurista, onde no topo notamos pequenos painéis de Led divulgando cada qual a sua marca. Certamente é um aparato visual dos mais interessantes, letras piscando, te chamando "Ei, estou aqui, esperando, sou sua deliciosa loira gelada"  - E isso...bem, isso funciona.
Entretanto para o Chico foi pouco, e outras novidades foram incorporadas ao bar além das reformas e dum novo cozinheiro e suas mágicas introduções ao cardápio. Refiro-me a um enorme telão em LCD que, para nossa infelicidade (dos velhos amigos) porém para o delírio geral  exibia clipes musicais da  MPB assim como outros tantos do enfadonho circuito sertanejo universitário. Diga-se, tais exibições se tinham primordiais para o Chico e para o filho mais novo, já que o velho truque do "popular à qualquer custo" sempre  trouxe ótimos dividendos.
E sobre o tal gênero musical é bom destacar que, no telão, as constantes presenças de Luan Santa, Michel Teló, Paula Fernandes e do tomateiro Leonardo, e outros sofríveis, somados a fatores ainda não declinados contribuíram para impregnar no local um ar  pretensamente pop e casual, ingredientes  insossos sim, mas que fizeram o bar decolar.

Porém nem tudo é, foi ou será surpresa no Chico. Bem, quero me referir a velha-guarda do lugar, indivíduos como nós de prazo de validade à míngua, cinquentões irrecuperáveis e desbotados dos ares da vanguarda recente. Nós os veteranos sempre fomos os preteridos, assim como no caso dos vídeos, pois se impostas  as nossas certezas, deuses como o Zeppelin, Floyd, Purple teriam o lugar cativo nas lista dos mais vistos . Entrementes e mesmo que gostassem de nós sabíamos que nos tinham por um jogo de cartas vencido, sem  votos, trolhas mofadas como a "Voz do Brasil", coisa que hoje  ninguém sabe o que é ou pra que serve. Portanto minoria absoluta (cinco ou seis votos entre duzentos ou trezentos possíveis)  cabia-nos apenas tamborilar na mesa os dedos descompassados nas vãs tentativas de acompanhar os ritmos dos sujeitos mencionados.
No entanto é bom que se diga; éramos tão autênticos quanto nossas barbas e rostos marcados pelas noites mal dormidas, o que por si só não permitia que minorar nossas importâncias, já que empunhávamos o brasão da remanescência, concedendo ao bar um certo resquício de tradição. Contudo e apesar das carteiras remidas jamais super valorizamos o legado que deixávamos, assim como  não fechávamos os olhos para o processo de  reciclagem com a qual a juventude  nos brindava.

E o importante reporta-se à  mútua camaradagem, o fato desses garotos interagirem conosco de jeito pródigo e respeitoso, mesmo que não abrindo mão de suas piadas ou gozações  - “O tiozinho vai tirar água do joelho?” geralmente perguntavam quando me viam na fila do mictório, ou, - “Uauu tio! Cê tá gostosão hoje” –  ao flagrarem-me bem trajado e no uso do inseparável cheiro do meu Paco Rabanne. Porém não poupavam-me em situações mais amargas onde a nostalgia acometida pelo vício etílico não me era impune - “Hey tiozinho, cê ta carentão hoje? Tu ta precisando é dum bom rabo, uma dona tudo de bom. Sacou cara?” - Eu ouvia seus conselhos e críticas, já que provavelmente não gostavam de me ver bebendo solitário e macambúzio, acariciando o rótulo da minha cerveja como se fosse o rosto de Catherine Deneuve. E eu apenas sorria e eles devolviam em dentes alvos numa cena que sacramentava a cumplicidade havida entre os bons companheiros, assim como no filme Goodfellas, do Scorsese.
Também não me seria impróprio confessar que as garotas mais novas gostavam de interagir comigo, e vez ou outra, algumas delas ao me notarem sozinho e introspectivo traziam uma cerveja e sentavam em minha mesa para desabarem suas agruras. Quando não,  trocávamos ideias e elas falavam de suas famílias, namorados, estudos, e sobre mais coisas do cotidiano. Enfim,  não há  exagero ao afirmar que sempre me foi fácil cativá-las, não porque me percebessem na pele de algum Don Juan tupiniquim, não, longe disso, mas talvez porque o meu jeito calado e observador induzisse-lhes algum tipo de proteção, ou que o a minha suposta experiência tivesse muito a lhes ensinar, não sei ao certo.

Todavia nada disso importava naquele momento, pois há duas horas eu e os três dinossauros estávamos na mesa de sempre, um local pouco distante das outras pessoas, gozando assim de um certo grau de privacidade. E ali sentados consumíamos  cervejas e cu-de-burro (suco de limão com sal) E as Serra Malte se denunciavam na fila indiana de vasilhames vazios que se acumulavam no canto da parede. Olhando os cascos perfilados, talvez alcançássemos a marca dos 22 ou 23, número que por si apontava que trafegávamos inexoravelmente na estrada da embriaguez, e ela se evidenciava nas vozes de tons altos, papos de temas imprecisos, alguns sem qualquer nexo, porém isentos de censura.

-Ô Fred, por que tu andas como essa cara de boi sonso? –

Claro, a pergunta tinha certa pertinência, afinal eu estava apaixonado e com compromisso. Cecília era o nome da garota morena e de talvez uns 28 anos, pernas roliças e bem torneadas. Eu a conhecera na internet, numa comunidade que versava sobre literatura, e onde percebi a sua sensibilidade não só para os livros, mas para com a vida. Dali revezamos mensagens, trocamos telefones e cá estávamos nós. Era bom ser atingido por aquele sentimento que nos deixa abobados, onde nada interessa, mas somente a mulher amada. E o amor pode chegar de repente, e você deixar de dar a mínima para o que acontece ao redor, e o mundo continua girando e você jamais nota, aliás. Sim, sei que pode estar pensando; Nossa! que papo bobo esse do mundo! Sim, talvez eu até concorde, porém faço uso do movimento de rotação para explanar o emblemático sentimento do amor, pois às vezes ele te pega e você não sabe. Todavia, antes mesmo que lhe dê a resposta toca o meu celular. Atendo mesmo que diante do bestial alarido dos frequentadores. Olho no visor o número que me chama, e para evitar a dispersão coloco meus discretos fones de ouvido.

-Amor, cadê você? – Ela pergunta com a voz arrastada – Também ouço vozes do outro lado da linha, e são vozes femininas, entretanto a surpresa da ligação não me faz perguntar onde ou com quem estava.

-Oi amor! .Estou aqui no bar com os amigos, petiscando um bom filé e tomando umas brejas – Respondo carinhosamente com a voz ébria. Os amigos me encaram e entreolham entre si.

-Ih, não falei?  Olha o Fred outra vez com aquela cara de boi lambido – Insiste o Lélio. Estar apaixonado tinha desses inconvenientes; todos percebem e querem tirar uma lasca.

-Quero te ver agora! – Cecília ordena com voz semelhante à de alguém que acabou de acordar. A tonalidade de sua voz é incerta e as frases persistem enroladas, porém, mesmo ébria ela fala dum jeito todo especial, e aquilo me faz imaginar o esturro carinhoso duma onça para um parceiro que chegou com a caça nos dentes.

-Ah é? Então é pra já, vamos dar um jeito nisso – Exclamo.

Bem... vocês devem estar imaginando; o sujeito irá largar os amigos e as bebidas, pegar o carro e sair voando para a casa da gata. Errado! Apesar de concordar que numa situação normal assim também suporia, porém temos que dar mão à palmatória e aderir às modernidades que pulverizam distâncias.  Então abro a mochila e coloco o notebook sobre a mesa, sem não antes solicitar ao garçom que passe o pano seco pelo local. Julinho o garçom também sorri, o que me leva deduzir que estar apaixonado nos dias de hoje é nada mais que representar no palco o papel de palhaço para uma platéia entendiada.

-Amor, estou desligando agora. Já nos vemos. Beijos, saiba que te amo! – Confirmo

-Bye, estou esperando por você amor meu – Ela devolve, antecipa-se e desliga.

Ligo o notebook e conecto nele os plugs dum eficiente headphone que me custou os olhos da cara. Olho para o canto direito do monitor e procuro por conexões de rede e um leque de 12 possibilidades surge. Parece ser meu dia de sorte e no segundo nome da lista a conexão se estabelece, provavelmente o sujeito deve ter esquecido de configurar a senha. Entro no Skype e lá está Cecília no aguardo. Repentinamente surge a solicitação para o webcam e eu aceito. - Puta que pariu! - Ao abrir a imagem Cecília está cercada por seis ou sete garotas. Elas olham diretamente para o webcam e riem à beça com taças rubras nas mãos. Vinhos, sim, certamente consumiam vinho.

-Nossa Cê, como ele é bonitão! – Ouço uma falar. Firmo a vista e percebo que foi a mais baixinha do grupo que, encoberta que estava pelas estaturas das que estavam à sua frente, propiciando a ela apenas a possibilidade do frenético agitar de braços para que a notássemos.

-Obrigado, moça! - Agradeço num sorriso tímido, meio sem graça.

-Hey, hey! Não é com você não. É com esse loirinho que está à direita logo atrás de você! – Ela protesta, estridente.

Claro, se ouvisse aquela voz num telefone juraria que estava falando com uma guriazinha dos seus 12 aninhos. - Puta que pariu de novo! - Ela silencia e olhos para trás e os amigos estão às minhas costas, aliás, eles e os copos de cerveja. Que merda!- Rumino - Tiro os fones dos ouvidos.

-Que zorra é essa?! Sumam daqui! Não posso nem namorar sossegado? – Bronqueio. Como resposta sou saudado com sonora vaia - “Uuuuuuu” -

Do outro lado as garotas persistem falando alto e gargalham, e elas me lembravam dum bando de hienas excitadas.

-Amor, que porra que é essa? Que está acontecendo? – Pergunto invocado ao sentir certa pressão em minhas costas. Novamente olho para trás e era a barriga de Cesar que, curvado sobre mim pretendia ver algo mais.

-Sabe amor, é a despedida de solteira da minha amiga Lucinha. Essa aqui ó! – Ela diz puxando para si a garota que se estava do seu lado direito.

-Oi Fred! – Lucinha se apresenta com voz mais enrolada que a de Cecília. Por Deus, estavam todas embriagadas!

-Ah Fred, não liga para a Denise não! Ela é a mascote da turma e nem sabe o que fala. Tenha certeza, ela te achou bonitão sim. E saiba... você é bonito mesmo  – Cecília finaliza e sorri ao abaixar a cabeça na direção do foco da webcam.

-Oba! Obrigado! Você está sendo generosa! – Agradeço outra vez, agora ainda mais sem graça.

-Fred, fica sem graça não amor, tu não és de se jogar fora, porém convenhamos, o loiro é um espetáculo! Um Deus nórdico!  – Lucinha exclama divertida e sorri.

Sim, Lucinha era uma boneca e aparentava uns 24. Nela o vestido justo e vermelho e de decote generoso prenunciava aquilo que eu poderia denominar como uma possível grande trepada. Lucinha está ébria e se curva ainda mais na direção do olho do webcam e isso me possibilita uma visão estupenda dos seios amassados pelo talho do vestido. Eles davam toda a pinta de saltarem dali, rogavam por liberdade incondicional, nem eu sei ao certo. A cena desencadeou um frenesi de sensações despudoradas, e o suficiente para ouvirmos a voz do Junior, aliás, não só a dele, mas da quadrilha que se mantinha às minhas costas.

-Tira! Tira! Tira!

Lucinha percebeu o frisson que causou. Eu olhava para Cecília e a via impassível, feição ébria, sem se dar conta das coisas do momento. Lucinha queria show, atuar, portanto puxou minha namorada pelo braço a fazendo levantar-se, apossando-se do assento.

-Tira! Tira! Tira! – Persistia a ladainha da matilha de lobos carentes, atrás de mim.

Lucinha ria, colocava o dedinho na boca e brindava-nos com um olhar de donzela travessa . Era o sinal, para a largada, luz verde para o bólido de Formula 1 queimar o asfalto. E assim se inicia o grand-prix da sensualidade, e ela desliza o indicador pelo meio do decote e acaricia suavemente a tez entre os seios. Sim, era apenas um jogo excitante, e as garotas riem diante a reação da corja, até que uma delas grita –“ei Gostosãoooo”- e a corrida continua louca e desenfreada, a bebida que embebeda lá,  embebeda aqui, e Lucinha, o bólido, enfia os três dedos da mão direita no bustier  e lentamente o força para baixo. “Uhuuuuu” delira a cambada de canalhas.

– “Tira! Tira! Tira!” - Eles pedem aos berros. E ela persiste queimando o asfalto nas ruas de algum principado, estreitas, perigosas, sensuais, enquanto os dedos agem para que o pano ceda aos poucos como as esmolas que regulamos para os mendigos.

Foi o bastante para as garotas participarem da insanidade da corrida, e logo imitam Lucinha e fazem bocas e caretas, e aos trejeitos alisam os seios por cima de suas roupas. Os peitos de Lucinha, agora estão quase descobertos, e eles são magníficos, e ela insiste em fazer o pano ceder até que se torne visível o início da aureola do seio. Porém, surpreendentemente sobe o pano do tecido e nos fulmina com uma gargalhada de gente à-toa– “Uuuuuuu” os meus amigos deliram e vaiam desencantados, eles querem mais – Evidente, eu não podia vaiar, mas um “Uuuuuu” anônimo e silencioso reverbera no peito, afinal eu me excitara tal qual a primeira vez que beijei a boca de uma mulher. Lá, do outro lado da tela as garotas continuam rindo e persistem nas cenas de um cabaré de terceira. Era óbvio, sabia que estavam gozando de nossas caras, justo nós uns carentes pobres diabos.  

No breve momento que a libido cedeu à razão penso naquilo tudo e suponho que se fôssemos nós nos lugares delas, a essa altura estaríamos desfilando de samba-canção colorida, afinal todo macho que se preza é altamente exibicionista. Lucinha queria mais, muito mais, então se levanta, da cadeira, distancia-se metro e meio do webcam e remexe os quadris como se fosse uma passista da Portela. Depois executa meia volta e de perfil soergue o vestido palmo e meio acima dos joelhos e exibe suas torneadas pernas. Mas ainda não se satisfaz, portanto gira o corpo até ficar de costas e o seu vestido está lá no alto próximo à calcinha, e ela chacoalha as estupendas nádegas como cansou de fazer num passado próximo a ex- bunda número um do Brasil, Carla Perez nos programas do Faustão. Olho para tudo e me pergunto como terminará aquilo, entretanto as meninas não compartilham da minha apreensão e continuam rebolando, e agora viram as costas e sobem seus vestidos, e sinais daquilo que sugeriam ser as cores de suas calcinhas surgem e elas insistem e gargalham enquanto os tais "Uhuuuus” da corja  persiste, alto,  algazarra que chama a atenção dos clientes e causa certa apreensão ao velho Chico que preocupado nos olha lá do caixa. Tudo está fora de controle, e elas continuam plagiando Lucinha, e rebolam e os “Uhuuus” persistem indomáveis até que repentinamente decretam o fim da corrida. Ninguém gargalha e nem remexe os quadris ou mostra os seios, e Lucinha abandona a cadeira e as garotas somem da cena e Cecilia reassume o posto recolocando seus fones de ouvido.

-Amor, peça para esses vândalos saírem das tuas costas, por favor? Quero ter um particular com você.

-Cambada, vocês ouviram o que a dona do time ordenou? Portanto... Fora todo mundo! – Exclamo, ao virar o corpo e dar de cara com os sacanas.

Eles parecem desalentados e abandonam as minhas costas, exceto o Cesar que, idiotamente persiste num “Uhuuu” solitário, talvez de protesto. Será que o pobre infeliz imaginasse que aquilo ia findar num strip-tease completo e gratuito?

-Cai fora sujeito problemático!  - Apresso-o. Cesar me olha e o “Uhuuu” silencia em sua boca e então ele sai de onde estava e retorna para a sua cadeira logo à minha frente.

Ajeito-me na minha enquanto os devassos retomando a tagarelice voltam a mencionar os fantásticos peitos de Lucinha. Evidente, Cecília não fez parte daquilo. Olho para ela, e ela está meio constrangida, porém sinto que há fogo em seu olhar. Ela meneia os ombros, pressiona os lábios um no outro e diz:

-Amor, você eu não quero que passe vontade.

Dito, seus olhos escorrem para o meu lado da tela e ela se certifica que estamos a sós. E vem o momento da surpresa, pois delicadamente pega o fim da malha do top que deixa os braços e parte do colo nu e o levanta.  A cena me deixa perplexo, pois Cecília não vestia sutiã.  Depois me olhou com lascívia e eu não desgrudei os olhos do seu maravilhoso par de seios. Cecília tinha peitos lindos e fartos. Suavemente ela toca um dos mamilos e ele desabrocha como se fosse flor brindando a vida. Ao longe ouço vozes e os risos das garotas, o que significa que elas estão retornando. Tão de repente quanto mostra Cecília oculta seus seios ao deixar cair a malha, cobrindo o peito.

-Amor, eu quero você hoje e sempre! Você não faz ideia de quanto te amo. Estarei em casa por volta da uma da manhã, quando acabar aqui. – Ela diz daquele jeito que me deixa louco

Aí sorri para mim, diz “boa noite” e um “te amo”. As vozes das garotas estão agora se fazem mais próximas e eu consigo distinguir algumas delas quando Cecília comunica:

-Meninas, estou me despedindo dos rapazes.

Foi o decisivo para que as meninas saíssem em desabala e colocando-se diante do webcam. Depois uma delas gargalhou e voltou a bolinar o corpo. As outras também riram e a imitaram.

-Chame os meninos! Chame os meninos, elas pediam em coro, algumas delas até assobiavam.

Porém de palhaçadas estava farto, portanto não chamei ninguém e apenas me despedi delas tocando os lábios com a ponta dos dedos, atirando um beijo coletivo. Por fim desliguei a webcam e pensei sobre aquilo e olhei para meus amigos, e eles, mesmo embriagados persistem falando dos peitos de Lucinha. E fico lá, parado, inerte, apenas os olho e suas bocas falam, não se calam, cães vadios tendo sonhos eróticos com filé mignon. E aquilo me faz retornar para dentro de mim e admitir o fato de não transar na real por um bom tempo um bom tempo, não que não houvesse a oportunidades ou pessoas disponíveis, mas sim porque agora as relações amorosas agora não me pareciam tão urgentes. Obvio, eu tinha prazer e fornecia prazer, e era assim era entre eu e Cecília, mesmo que virtualmente, já usávamos do possível . Claro, fazer amor e à cor é e sempre magnífico, entretanto nesta vida eu fizera amor tantas vezes e saíra de algumas relações tão ou mais  vazio de quando entrara.  Agora o que eu precisava era alguém que me inteirasse e que me fizesse sentir que entre nós não haveria interregnos existenciais. O que ansiava era ter a oportunidade de viver a mulher e a delicadeza que se desfruta em cada folha do seu ser. E essa hoje era a minha maior verdade, talvez procurada  com o desespero de alguém que necessita o mais íntegro prazer de estar com alguém, e sorrir, e beijar, e fazer amor compactuando cumplicidades. Enfim, alguém que me fizesse compreender que é possível uma excepcional noite de amor ser sucedida por outra ainda melhor. Logo, Cecília poderia ser essa criatura, apesar dos mais de 4.000 km que nos separavam. Havia entre nós muitos traços comuns, e ela simplesmente me deixava louco na hora H, apesar de vingar ao terminar, um gosto amargo de monitor LCD.

Saímos de lá algo além da meia noite. Despedimos na porta do bar e cada qual seguiu o seu destino. Rodo por ruas desertas enquanto em outras alguns poucos automóveis trafegam. Depois de bons 30 minutos estaciono o Palio Weekend numa vaga descoberta garage ao lado da porta de entrada da casa. Saio do carro e abro o capô e retiro um dos cabos de vela, afinal nem todos os ladrões da cidade andam com cabos de velas sobressalentes. Entro na residência e desfaço-me da camisa e calça social e conecto o notebook sem  necessitar dessa vez a senha ou a conexão de alguém. Sei o que procuro, portanto abro a página do site e passo os olhos pelas promoções. Achada, retorno ao lugar onde despejei a calça e a camisa e volto com um cartão magnético em mãos.  Forço a visão, pois as letras do site são miúdas. Forneço o  número e código segurança do meu cartão e efetuo a transação - Era um negócio com uma companhia de peso.

-Manaus, já me sinto pelo caminho! – Exclamo e sorrio para a aranha indolente que no teto praticava algo parecido com bungee jumping.

Agora em meu poder havia uma passagem aérea de ida e sem volta para o Amazonas. E isso me conforta, pois agora quero viver para o óbvio, ver apenas o que pretendo ver, gozar a vida do jeito e forma que deveria ter vivido e não vivi até aqui. E é justo, pois suponho que também sou filho de Deus.
Penso pouco mais sobre as questões das relações virtuais  enquanto a multifuncional emite o localizador da minha passagem. Foi ali que consenti que a distância maior de 4.000 km jamais deveria ultrapassar o tamanho das minhas indefinições.

Continuei no notebook e espionei o meu e outros perfis no Facebook até me sentir entediado.
Entretanto a pergunta não se calava, e eu olhava para a tela e para o jogo de xadrez que acabara de buscar numa das pastas do Windows. Sim, um jogo de xadrez. Permaneci olhando para o monitor até que decidi colocar o dedo sobre a peça branca para dar o inicio ao Match. Sorrio idiotamente ao acreditar que   pudesse ganhar da máquina, mas nunca ganhei, e isso me irritava, não que me considerasse alguma sumidade ou dotado de inteligência privilegiada,  não,  mas tinha sim um bom raciocínio,  embora muito pouco para digladiar com aquele programa. Sim, um software abastecido por um campeão. dizem,  Bobby Fischer, divindade no universo enxadrístico dos anos 80, um computador humano dotado de fantástica massa cinzenta á municiar os engenheiros de Bil Gates com milhares de combinações vencedoras.
Enfim, verdade ou mentira,  com Bobby ou sem Bobby adianto meu peão duas casas pelo centro do tabuleiro e o maldito PC responde abrindo o cavalo da sua dama. Levo outro peão perpendicularmente ao meu na intenção de defendê-lo do hipomorfo, e em resposta campeão adianta o seu peão à frente da torre do Rei. -"Que raios de jogada seria aquela?" - Surpreendo-me. Eu não sabia, e o que sabia era que mais uma vez poderia estar entrando pelo cano; Tudo bem! - Resignei-me, estava pra lá de acostumado.
A casa onde foi parar o peão adversário piscou nervosamente; era o sinal para que eu fizesse o meu movimento. Fico olhando para as frenéticas piscadelas e elas me lembram os incandescentes letreiros de alguns inferninhos da boca do lixo.

-Vá te foder, Bobby! Espere! - Resmungo para o computador

Sem que me haja qualquer motivo olho para o alto e uma aranha solitária parece surpresa com minha bravata. Levanto da cadeira e olho para o teto e ela parece desconfiada, pois talvez tenha o bom senso de jamais confundir moscas e abelhas. Enfim, esperta e até com receio que um desavisado pé do meu sapato  involuntariamente seja atirado para o alto acaba por dar o fora dali escalando um pequeno espaço da teia,  e esconde-se no interior do globo da luz. Penso na cena e na fuga malandra e outra vez sorrio.
Momentaneamente desvio minha atenção da aranha, do tabuleiro e questiono-me à meia voz:

-Meu Deus, serei o azul do Caprichoso? Cecilia será o oposto, vermelho, do Garantido? -

-Não sei... -  Murmuro introspectivo, assim como concluo também não saber se ela ficará feliz com a surpresa, pois não há garantia para nada nesse mundo, excetuando a morte. Penso na morte por mais alguns segundos e me recordo do Azul e a minha predileção pelo Caprichoso. Evidente, concordo, tudo é uma questão de cor, azul, vermelho, um ganhará e o outro perderá. Porém não quero arriscar, vou no campeão,  vou no perdedor, serei aquilo que Cecília for, ela é a bola da vez e eu estou cansado da voluntária escolha de jamais colocar a pele em jogo e abrir mão da grande bolada.

-Amor...aí vou eu! - Exclamo para uma aranha sonolenta. Peço desculpas a Bobby e desligo o computador. Procuro uma toalha de banho, e saindo do quarto carrego também um dos meu inseparáveis pijamas curtos. Eu gostava deles, coisa de macho, sem dúvida. Ele era em azul marinho e a blusa com gola em V  estampava bolinhas brancas num tecido que nitidamente imitava a seda.

-Sim! Nada mais elementar... pobre, limpo e Caprichoso -

Concluo comigo ao abrir o registro e sentir os efeitos duma ducha Lorenzetti com mais de 10 anos de uso. Os furos por onde sairiam os jatos estão entupidos, já que há mais de meses não os desentupo. A água que se arrisca sair pelo furinhos goteja  fervendo e me machuca a pele.

-Merda! Merda! Merda! -

Xingo três quando poderia ter xingado apenas uma. Talvez fosse frescura ao extremo.
Sorrio novamente. - "Será que haverá antropófagos nas florestas do Amazonas?" - pergunto-me. "Vá a merda!" Respondo para o imbecil que se fez a pergunta.
Talvez fosse nada mais que pura  ansiedade.


Coporraiti24Set2013
Véio China©