segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Porfírio - Um detetive dos diabos

Eram precisamente vinte e duas horas e trinta minutos quando parei debaixo de um poste. Estávamos em pleno inverno e a luz ofuscada por um ainda discreto nevoeiro dava certa notoriedade ao meu terno de corte panamenho. Certamente para mim a noite é e sempre será uma linda mulher que adormece e se acordada com um beijo, e eu estava ali priorizando trabalho que me fazia mergulhar em seus seios, e eu e os meus olhos de lince permanecíamos atentos e.à disposição de causas boas ou ruins, não importava, desde que resultasse em algum dinheiro. E após cada serviço executado o comum era verme-me num bar e encostar o umbigo no balcão e beber. Depois e de cara cheia tentava apenas não morrer espatifado num poste ao deslizar os pneus do carro nas esburacadas ruas de Sampa. 
Enfim, eu gostava dos odores da madrugada.e de sentir o cheiro do asfalto molhado numa cidade que necessitava ser limpa, enquanto, na mesma hora a maioria dos mortais aguardava em seus leitos a alarme dos despertadores nas primeiras horas da manhã. E agora, ali plantado com a minha garota de vapores gélidos e olhar desestrelado  jogava a bituca do meu cigarro na calçada quando repentinamente surgem três ou quatro prostitutas que, provavelmente faziam ponto nas imediações. Elas tagarelavam e riam alto quando uma de voz estridente me propõe:


-E aê, tiozinho, tas afim dum programinha legal?

Olhei para a criatura e ela não era de se jogar fora, porém eu não estava ali para trepar, mas sim para dar cabo às minhas responsabilidades, apesar do tesão que me causou aquelas pernas otimamente torneadas.  Pigarrei, olhei-a com alguma simpatia, mas acenei negativamente a cabeça, porém sem perder do olhar a janela do 3° andar do prédio em frente.
E sobre estar ali às vezes me perguntava meus motivos para abraçar aquela profissão, ainda mais porque ser detetive é prostituir-se diariamente tanto quanto a puta de coxas grossas. Sobre essa questão digo apenas que jamais desprezei a profissão de qualquer pessoa, mas nunca me dobrei à falsidade, já que muitos não se dão aquilo me que dou, a mão à palmatória, afinal entendia que poderiam sentir repugnância pelo que eu era; um safado alcaguete. E quando você se torna um dedo duro profissional perde um pouco do amor próprio e somatiza para si a antipatia da maioria das pessoas, pois qual de nós gostaria de ter sua privacidade vasculhada?

Bem, gostassem ou não era essa a minha profissão, e se detetive sou a culpa cabe a mim, pois sempre viverá em minha memória os meus tempos de juventude e os insistentes apelos dos meus velhos; “Filho, estude! -  Eles rogavam. Entretanto jamais dei ouvidos a eles, e eles queriam apenas que eu fosse um bom advogado. E talvez essa urgência fosse a do meu pai, hoje um humilde octogenário aposentado. Certamente ele pretendeu realizar em mim aquilo que não conseguiu ao cursar até o 2° do Direito, abandonando os estudos para sustentar irmãos em fase escolar e a mãe que acabara de enviuvar, isso quando era noivo de mamãe. Lógico, tal qual ele no começo tentei saciar suas vontades ao concluir os dois primeiros semestres numa faculdade privada. E sobre ela recordo-me do correr daquele ano, e lá estando aos poucos fui percebendo que não era a minha intenção tornar-me um homem das leis, ser o justo da balança, pois as aptidões para um bom advogado jamais tive. E assim concluí ao notar que o que me prendia naqueles bancos eram aquelas garotas com sorrisos malandros e toda a viabilidade de algumas trepadas gratuitas.

Bem, e já que estou aqui num jogo da verdade e de confessar a  mea-culpa é bom que eu seja mais íntegro e revele duas das principais verdades; A primeira é que à época o meu grande sonho foi o de ser motorista de caminhão. Claro, podem achar engraçado, mas eu me imaginava na boleia daqueles brutamontes como os Mercedes ou os FNM. E a segunda é que os dois semestres na faculdade trazem-me ótimas lembranças, notadamente as festas patrocinadas pelos filhinhos de papai que lá estudavam. Festas que sempre contavam com a presença das garotas do curso e outras levadas dos inferninhos que frequentavam. Festas celebradas em bairros nobres e em mansões de jardins suntuosos. E ali, entre brados da mocidade rolava whisky do bom, 25 anos, além de farta putaria. E uma coisa sempre levava a outra, então nos embebedávamos e semi desnudos nadávamos em suas piscinas de 10 por 15, para ao  fim ser as mesmas sacanagens de sempre, inclusive algumas trepadas relâmpago que, sem qualquer cerimônia se expunham nos gramados, banheiros de empregados,  ou, no melhor das hipóteses nos bancos traseiros dos carrões estacionados em suas garagens.

Porém este universo de devassidão não foi o bastante para segurar-me lá, e eu, obrigado a trabalhar para manter os estudos, e o pior, ganhando pouco, acabei por me estressar e mandar tudo e a todos à puta que pariu. E ao abandonar a faculdade, jovem e inexperiente, houve a certeza que me livrara de toda futilidade, além do massacre psicológico que me era imposto por  aqueles presunçosos professores.
Enfim, o que não faço é chorar o leite derramado, e eu exerço apenas a minha profissão,  e com ela me defendendo de unhas e dentes, pois sempre haverá gente melhor em serviços piores que o meu. Bem, deixando as lembranças de lado aguardo por mais 40 minutos com os olhos grudados na janela do 3° andar sem que surja qualquer novidade. Eu estava cansado, as putas também pareciam exaustas, e as minhas pernas doíam e estavam num estágio de dormência, enquanto elas, coitadas, arrastavam seus saltos no asfalto, acenando ou correndo atrás de cada todo carro que passava. Não demorou muito, e elas acabaram por sentar-se numa mureta do terreno da esquina.
Pelo meu lado as pernas formigavam causando-me incômodo, portanto bati vigorosamente as solas dos sapatos na calçada, e tão logo as penas se sentiram donas de si próprias caminhei uns 30 metros até o boteco mais próximo. Entrando pude sentir o cheiro a coisa podre vindo pelo corredor, certamente do banheiro que nele se findava. Olhei bem para as dependências do boteco, e ali numa das três mesas existentes uma negra bebia algo de uma forte coloração ferrugem, talvez “Fogo Paulista” uma bebida rampeira e de absurdo teor alcoólico. Aliás, não só a negra bebia, mas também os dois sujeitos que e sentavam ao seu lado.  Acomodei-me no balcão da frente sem descuidar-me da  janela do apartamento, pois a visão dali era excelente.
Fiquei sambando os dedos no tampo do balcão imitativo dum o mármore italiano enquanto espantava o pouco que sobrara da dormência das pernas. Eu olhava para o sujeito atrás do balcão.

-Por favor meu chapa, quero um conhaque, e meia cerveja quente e outra meia da gelada –  Pedi - O dono do bar me olha de forma estranha. Firmo os olhos em sua figura e ele parece carregar nos traços algo da herança portuguesa, fato que confirmo ao seu comentário inoportuno.

-Ai Jesus! Será que é mais um gajo para encher o rabo de pinga e me torrar as paciências? –  Ele reclamou  justificando a sua preocupação apontando o indicador para a crioula e para os dois sujeitos, assim como me dissesse: "Olhe a merda aí".  Evidente, mesmo que bêbada a mulher se ligava nas atitudes do português, e claramente se sentiu ofendida.

-Porra! Do que você tá falando portuga? Por acaso num to pagando a despesa? – Retruca aborrecida e  escandalosa.  E o seu protesto foi o suficiente para um dos sujeitos também se sentir  golpeado.

-Isso mesmo, Lustosa! A dama está pagando a conta, e a sua obrigação é servir a gente, e não ficar aí com esse papo furado! Um deles devolve. Foi o necessário para que o outro companheiro de copo criasse coragem e também se manifestasse:

-É isso mesmo, Lutosa! Está tudo lá no Código do Consumidor!  –  Apelou o segundo, inclusive o que estava em piores condições. que me obrigou a apurar os ouvidos  para entender as suas  falas embaralhadas. 

A fala enrolada do sujeito me obrigou a apurar ou ouvidos. Pensei por segundos sobre a veemência bêbada e me questionei; Será que o ouvi direito? Foi mesmo o Código de Defesa do Consumidor que o bebum alardeou? –  Puta que pariu! Era, não havia dúvida, pois mesmo com a dificuldade fora exatamente o que ele dissera.

-Código do consumidor é a puta que te pariu! - Vociferou o português. Ele estava irado, pois senti no timbre da sua voz.

Fiquei olhando para a cena e tive vontade de gargalhar; o bebum só podia estar doido, ainda mais ao enfrentar aquele português, nada mais e nada menos que fera de seus 120 quilos distribuídos em provável metro e oitenta e cinco de estatura  – Entretanto eu nada tinha com aquilo, e assim segurei a minha onda.  Todavia, o portuga que de bobo nada tinha, afinal, e aliado à sua experiente de balcão sabia e muito bem dos levantes e das malandragens dos bêbados, e tanto que sumiu das minhas vistas ao procurar algo debaixo do balcão.

-Ó aqui o bebunzada do carálios! Vocês vão querer encarar? – Berrou para eles surgindo com um daqueles cassetetes de borracha maciça, provavelmente auferido da Guarda Municipal, afinal, esses malacos arrumam tudo e por todos os preço.

Os bebuns, assustados olharam para ele e nada mais protestaram. Também olhei e achei a sua ameaça física algo desproporcional, mas nada comentei, pois a minha vida já era demasiadamente problemática  para arrumar novas aporrinhações. Com as bebidas servidas matei o conhaque numa tragada só. Depois o homem abriu ambas as cervejas e eu intercalava os goles entre a quente e a fria. Na extensão do balcão outras três ou quatro pessoas tragavam suas bebidas e me olhavam curiosos. Eu sabia que o meu jeito de beber chamava a atenção das pessoas, já que era um estranho ritual aquele que eu praticava. Óbvio, e isso não era ferramenta do meu ofício, pois o que menos um detetive necessita é que prestem atenção em sua estampa. Não, não foi essa a minha intenção, contrário, pois seria eu a me ater deveria aos mínimos detalhes de um flagrante, e nisso podia garantir, era bom e nada escapava aos meus olhos de lince.
Logo, fiquei por ali terminando as minha as bebidas enquanto ouvia as conversas fiadas daqueles três bebuns. E lá vinham eles, o que parecia estar em situação melhor:

-Hei, sabiam que noutro dia fui no enterro dum amigo meu? - Ele pergunta para a negra e o outro, e eles olham perplexo para ele. E o bêbado continua: - Sim, fui eu e um amigo meu, bebum também.Aliás, éramos todos bebuns, até o morto era, e eu nem sabia que ele tinha morrido, e assim que chegamos lá, olhei pra ele no caixão, e a mulher dele chorava muito. Perguntei para ela de que ele tinha morrido e a mulher dele apenas chorava, chorava, e aí respondeu “ Olha moço, ele morreu como um passarinho” - A crioula e o amigo ouviam a narrativa espantados, até que ela, curiosa,  perguntou num atropelo de palavras - "Como assim; o seu amigo morreu como passarinho? – Sim, definitivamente a negra mergulhara de cabeça naquela louca história de velório, tanto que deixou escapar da mesa o cotovelo direito que lhe sustentava o rosto.  O narrador da história cinematograficamente exprimia um ar condoído quando lhe respondeu: - Bem, nem eu e nem meu amigo entendemos  muito bem aquela história de se morrer como passarinho, portanto ficamos por lá olhando pro defunto até que surgiu do nada um outro amigo nosso,  bebum também, e nos reconhecendo perguntou para o amigo que estava ao meu lado: “Sebastião, que coisa, que notícia horrível! Por acaso você sabe de que morreu o Odorico?” – Bem, como a pergunta não foi feita para mim achei melhor ficar quietinho, e meu amigo ficou lá matutando o que responder  para o outro, até que se saiu com algo que lhe pareceu lógico; "Morreu duma estilingada!"  – Sim! acreditem amigos, foi isso mesmo o que ele respondeu. – A negra o olhava perplexa, o outro também, foi então que o narrador da história caiu na mais profunda gargalhada. E assim eles perceberam que estavam sendo sacaneados

-Duma estilingada é, seu filho da puta? Duma estilingada vai morrer tu, tá saben....  –  A negra foi interrompida por um grave barulho de algo que se chocava contra uma superfície lisa.

-Cês vão encarar? - Era o portuga ressurgindo com o cassetete em punho.

 Foi o suficiente para os três voltarem para as suas bebidas, e em silêncio. Depois olharam uns para os outros, e seus olhares eram tão marotos que não impossível conterem o riso, risos que logo após se transformaram em gargalhada, e para desespero do português:.

-Ai carálios, acho que  devo merecer! – Reclamou devolvendo o cassetete para o lugar de origem.

Eu ri, discretamente, era uma piada manjada, de bêbado, mas foi engraçado a naturalidade de ver uma piada de bêbado ser contada para outros bêbados. Peço mais uma cerveja e percebo as luzes da janela do terceiro andar se acenderem. Pouco adiantou a safada ter saído de casa com sua naturalidade morena e seus cabelos acastanhados, ter trocado de carro no estacionamento, e agora estar loira e fodendo com um zé mané num prédio de apartamentos de classe média baixa, e que nem elevador possuía. Eu não era aquilo que poderiam rotular dum Zé Arruela qualquer, e ela que fosse enganar outros otários, mas não eu, portanto corro para o prédio e subo os degraus pulando-os de dois em dois, e me escondo atrás de uma das pequenas coluna que dividiam todos os oito apartamentos de cada andar andar. Permaneci atento, e um pouco mais ouço vozes que brincam com a outra, e barulhos de saltos de sapatos que descem do pavimento superior. Uau! Foi então que a pude ver direito, carne e osso, aliás, pecaminosamente mais carne que osso. Pessoalmente o deslumbramento loiro da mulher resplandeceu mesmo que falsificado, porém o fato de estar tingida parecia deixar suas pernas mais apetitosas, ainda mais na posse daquele rabo que faria qualquer demônio gemer. Sem que me vissem, e antes que alcançassem o primeiro pavimento eu registrei o fato na minha ótima Polaroid comprada numa feira de segunda mão, isso no ano de 1975.

Assim que saíram pelo andar térreo desci e rumei diretamente para o bar. Já estava postado na porta do boteco quando os vi se separarem com um beijo e eles se dividiram e ela rumou para o seu automóvel estacionado um pouco mais adiante do cruzamento. Postada à frente dele a mulher abriu a porta e fez menção de entrar, no entanto não entrou. Em seguida fechou a porta, acionou o alarme e atravessou a rua vindo na direção do bar. Por questões da segurança do caso dei as costas para a rua, pois o que mais preza no verdadeiro detetive é o seu rosto jamais ser conhecido pelo objeto da investigação, já que obrigatoriamente ela teria que passar por mim. Repentinamente uma fragrância de um suave perfume feminino ganha o espaço em que estava, e sinto alguém tocar os meus ombros. Olho e lá está ela; a mágica loira dona do rabo descomunal

- Porfírio, que porra de detetive é você? - Ela me ri zombeteira

Eu nada disse. Os bêbados nos olham assustados, o portuga cola os cotovelos no tampo do balcão, e todos prestam atenção em nós. Não havia qualquer saída, e ela me fez sentir constrangido. Novamente os seus olhos faiscavam como os curtos circuitos que incendiam residências e estabelecimentos comerciais. Ela continua me olhando, e então joga os seus cabelos para trás e seus lábios carnudos e tingidos num batom grená se abrem devoradores:

-Porfírio, toma lá. É isso é para você!  Ah...e mande um beijo para a Aurélia! – Diz numa expressão  de quem sabe das coisas do mundo.

Um beijo para Aurélia? - Pergunto-me incrédulo. Caracoles! Eu estava amasiado com Aurélia há menos de três dias! Como ela poderia ter sabido?

Bem...depois abriu a sua bolsa de couro de crocodilo australiano e dentro dela retirou 8.000 pratas, as quais colocou em minhas mãos. Aliás, o valor que ela me dava correspondia à quase duas vezes e meia o preço que o seu marido me contratara.

-Entendeu tudo mesmo, Senhor Porfírio? – Questionou num induzido sorriso biscate – E agora ouça-me com atenção – Ela continuou ao chamar-me mais próximo. Então sussurrou para que os curiosos da mesa não a ouvissem; -Agora nós vamos inverter o jogo e o meu marido será a caça, e você o seu caçador. Há coisas importantes que quero que descubra sobre ele, e te aviso; essas coisas valem uma boa grana. Portanto senhor Porfírio, considere-se contratado, já que jamais levantaria suspeita. - Finalizou

-Sim, entendi tudo e muito bem minha senhora! Conte comigo, um criado ao seu dispor– Respondi da mesma forma que Humprey Bogart  faria, algo no estilo e olhares dos anos 50, truque que sempre causou algum efeito.

-Ah...E por favor, a Polaroid de 1975 agora é minha e fica comigo. Ah, claro, as fotos também, pois estão inclusas no preço – Disse-me ao retirar a mochila das minhas costas, lugar onde eu guardava a máquina Porém ela ainda não tinha terminado - E outra coisa Porfírio...Pare de me olhar desse jeito, já que não há nada mais cafona que este seu olhar! Modernize-se, homem! Há tantos caras interessantes por aí, Tarantino, Brad Pitt, Banderas, Pacino, De Niro, pô! Mas..Humprey Bogart não, pelo amor de Deus! – Disse-me num tom de gozação. Caracas! Aquela mulher devia ter parte com o diabo - Imaginei.

-E agora...finalizando... Aguarde minhas instruções, pois em hora apropriada farei contato com você - Sentenciou num sorriso que não mostrava a perfeição dos seus dentes. Em seguida me passou seu cartão de visita e lá constava o celular.

Poxa, nada mal! Eu acabara de arrumar uma nova patroa, e se os espiões mais competentes desse planeta f fizeram jogo duplo, triplo, quádruplo, por que um mero detetive não faria? Olhamo-nos por mais alguns instantes, e ela chamou-me mais intimamente ainda como se quisesse dizer-me algo no ouvido. Talvez o meu olhar de Humprey Bogart estivesse surtindo efeitos retardados.

-Porfírio, sinceramente, o melhor para você teria sido o motorista de caminhão, pois seria um péssimo advogado tanto quanto o sofrível detetive  que é. O diabo é que tu está acima de qualquer suspeita, logo, você é imprescindível –

Como? Motorista de caminhão?  - Por Jesus Cristo! - Sim, foi o que ela falou. Definitivamente, aquela mulher só podia ser coisa do mal, pois jamais confessei a alguém que meu sonho foi o de estar na boleia dum colossal  FNM. 
Bem, ela falava e a sua voz soava como veludo, e após escancarar a minha fantasia sorriu dum jeito ordinário, desses de quem sabe que está com dois pássaros voadores na mão.
Em seguida deu-me as costas e eu a vi rebolar aquelas nádegas de outra galáxia, e elas teriam enfeitiçado o próprio John Kennedy, sem dúvida. Pouco mais adiante ela parou em frente da porta do seu  Chevrolet Ômega importado, acenou-me com a mão, entrou e partiu.


Copirraiti16Dez2013
Véio China©